Resenhas - Princess of Thorns

Yasmin675 27/09/2020

Caótico, mas... funciona
Quem me conhece sabe que eu AMO um retelling e quando dei de cara com Princess Of Thorns fiquei animada. A promessa de um retelling de Bela Adormecida foi uma ótima isca, resolvi apostar e apesar de algumas pequenas ressalvas, o livro funcionou bem pra mim.

Aurora perdeu tudo, seu reino (Norvere) é controlado por ogros, seus pais estão mortos, seu irmão mais novo foi sequestrado e ela está em presa em cativeiro. Apesar de seus dons mágicos, vindos de fadas, Aurora não sabe como irá escapar. E então, Niklaas (o Príncipe herdeiro de Kanvasola) entra em cena e executa um resgate, crente de que Aurora é na verdade seu irmão (Jor). Niklaas exige como recompensa que Jor o leve a Aurora, esperando que o garoto possa arranjar um casamento entre os dois. Aurora entra no jogo, escondendo sua identidade e negociando com o príncipe Niklaas, exigindo que consigam um exército para o resgate de um amigo (neste caso, o verdadeiro Jor) e só depois encontrem Aurora. Mas o tempo de Niklaas está acabando e a cada dia que passa, mais perto ele está de enfrentar as consequências de uma cruel maldição.

A principal palavra pra resumir esse livro seria... Caótico. É um retelling de Bela Adormecida, mas você também encontra traços de Mulan, The Wild Swans e até uma participação bem microscópica de Rapunzel (mas está lá). E apesar do encontro de todos esses clássicos ser uma receita pro desastre, Stacey amarra as pontas de um jeito que eles consigam funcionar de uma forma harmônica, às vezes colidindo e trazendo a dificuldade de resolução de plot. É uma mistura MUITO peculiar, mas que funciona e se completa. Os plots vão se entrelaçando, dentro da dinâmica do enredo e apesar de parecer muita informação, cada um tem seu espaço e momento.

Vamos falar do desenvolvimento dos personagens. Começando por Aurora. Nossa protagonista foi moldada para ser uma heroína, ela sabe lutar, tem seus dons mágicos e é estratégica e inteligente. E apesar de tudo isso, ela ainda consegue ser humana e ter suas inseguranças e fraquezas, a garota carrega as marcas dos erros de seus pais (especialmente da mãe, pela maldição que recebeu) e se esforça para que ninguém mais tenha que sofrer as custas desses erros. Ao longo da narrativa Aurora cresce muito, ela aprende a confiar em outras pessoas, aprende que não pode carregar o peso do mundo nas costas (mesmo que esteja disposta a fazê-lo), mas continua com sua característica teimosia e desejo de vencer, e não importa quem esteja em seu caminho, ela está disposta a fazer tudo para recuperar o que foi tomado dela.

Niklaas foi... Difícil. Eu gosto muito dele, e sei os que pensamentos e falas machistas e sexistas que ele reproduz foram totalmente propositais e ele evolui, não vou negar que isso me incomodou, mas faz parte da trama do retelling de Mulan então estou disposta a passar um paninho pra isso aí. Niklaas foi um personagem que foi crescendo no meu conceito, a evolução é lenta, mas perceptível. E apesar de tudo, ele é integro, nobre e leal, engraçado, com todos esses atributos é difícil não torcer por ele. Sua química com Aurora foi TUDO DE BOM, apesar dos mil tropes que a autora usa para desenvolver o relacionamento dos dois.

O desenvolvimento do relacionamento de Aurora e Niklaas foi uma das melhores coisas do livro. A dinâmica e energia enemies-to-friends-to-lovers foi muito bem desenvolvida. Desde os apelidos (runt, insufferable person, brat-boy e outros) até as discussões ao longo da jornada. O breaking point entre os dois foi a revelação das verdades de ambos, depois disso eu achei que a energia ia morrer, mas não, as discussões ficaram ainda mais intensas e a faísca entre eles cada vez mais forte. Apesar de tudo, mesmo que ambos machuquem um ao outro por pensarem demais e distorcerem as intenções por trás dos atos, eles sempre acabam voltando para o ponto de partida. Veredito: chef's kiss.

A escrita da Stacey é interessante, destaquei muitos quotes lindos durante a leitura e eu gosto de como ela conduz os diferentes pontos de vista. Os personagens tem personalidades bem distintas, você consegue distinguir bem quem é cada um de acordo com a forma que a Stacey escreve.

Uma reclamação que tenho a fazer é a falta de profundidade na explicação sobre a história dos reinos e como foram parar lá. Tudo é muito fragmentado, tive dificuldade de reunir todas as informações e ligar os pontos da história que os levou até onde estavam agora. Também tive umas ressalvas em relação a resolução de alguns conflitos entre os personagens, parecia que a autora não queria escrever mais debates e discussões então simplesmente apagava um deles e pronto, quando acordavam tudo tinha sido resolvido, e não é bem assim que as coisas funcionam.

No mais, todo o resto foi bem ok. O arco de redenção do vilão é ok, a resolução da maldição da Aurora foi um pouco fácil, mas inesperada (não imaginei que fosse acontecer daquela forma). Gostei do desfecho do casal e eu leria mais livros ambientados nesse universo.
Estou ansiosa para ler mais da autora.