Maria - Blog Pétalas de Liberdade 13/10/2014Um ótimo romance de época nacional A história se inicia em 1819, em Minas Gerais. Francisco do Espírito Santo era um jovem de vinte e poucos anos, após perder sua mãe, deixou o pai e o irmão e saiu de casa para tentar dar um rumo a sua vida.
"Impelido pela tristeza, pelo vazio e pela solidão interior que sentia, Francisco deixou para trás o aconchego e a segurança do lar onde havia nascido e sempre vivido. Se por uma janela ele pudesse, ao menos por um instante, visualizar o futuro, talvez jamais fosse tomar tal decisão e perseguir um destino tão amargo, miserável e incerto." (página 51)
Francisco arrumou emprego na Fazenda Cantareira. Mesmo sendo avisado da personalidade difícil do dono da fazenda, o Capitão Bartolomeu Moutinho Esteves. Além de trabalhadores livres, a Cantareira também tinha escravos. E foi por Eugênia, uma bela escrava, que Francisco caiu de amores.
Em troca da autorização para se casar com Eugênica, Francisco teve que assinar um contrato onde se comprometia a trabalhar como um escravo para o Capitão Bartolomeu Moutinho Esteves durante 12 anos! Após esse período, os dois estariam livres. O que não se faz por um grande amor?
Esse contrato absurdo, já que 12 anos de trabalho valiam muito mais que o preço de uma carta de alforria, foi a perdição de Francisco. Um contrato que ele nem leu, já que era analfabeto, como a maioria das pessoas da época. Francisco, um homem livre, ingênuo, bom e cego de amor, se tornou um escravo na fazenda. O Capitão fez o que pode para tirar o máximo de proveito desse contrato.
Quando a sinopse diz que o fazendeiro era diabólico, ela está completamente certa! Capitão Bartolomeu Moutinho Esteves era um homem mau e cruel (e o fim dele foi de uma forma tão cruel quanto ele, mais que merecido). Ele não desistia fácil e infernizou a vida de todos os que viviam ao seu redor.
"Condenado pela ambição desmedida, sua ganância por poder e riqueza era um vício pernicioso que fazia dele um escravo devotado, e não demorou muito para que o demônio que o habitava ressurgisse ainda mais perverso e mais brutal." (página 141)
"Filhos da Senzala" tem como foco principal a história de luta pela liberdade mais que merecida de Francisco, Eugênia e sua família. Além disso, faz um retrato da sociedade da época, de como era a vida no século XIX. Além dos mocinhos e do vilão, é contada a história dos personagens coadjuvantes, no intuito de mostrar os costumes da época, principalmente no que diz respeito aos amores. Essas histórias paralelas sempre estão ligadas ao Capitão, Francisco e Eugênia. Fato que se torna evidente e compreensível no final do livro, que não podia ser melhor.
Se existiam pessoas más, também existiam pessoas boas e justas, como o incansável advogado de Francisco, o Coronel Francisco de Paula, personagem que merece ter o nome citado na resenha.
A minha maior expectativa estava no fato de a história se passar em Minas Gerais, o meu estado, e não me decepcionei! Foi muito bom e gratificante poder ler este livro, ler as descrições das paisagens mineiras, das comidas, das plantas, do clima, da neblina e conseguir reconhecer e visualizar tudo isso com facilidade. Mesmo quase 200 anos depois, essas descrições servem para parte do que eu cresci vendo ao meu redor.
Sinto falta de ver escritores contemporâneos escrevendo sobre nossa história, sobre nosso país. Silvânia Dias pesquisou e escreveu brilhantemente e com veracidade sobre uma época cruel pela qual passamos: a escravidão. Torço para que mais autores busquem no nosso passado a inspiração para suas obras. E para que possamos entender cada vez mais, todo o percurso que o Brasil percorreu até chegar aos dias atuais.
Apesar de algumas ideias serem repetidas demasiadamente, a leitura flui bem e a linguagem utilizada é de fácil compreensão sem empobrecer as características da época da história. Os capítulos são curtos e narrados em terceira pessoa. Não encontrei sequer um erro de revisão. Gostei da capa, da escolha das cores e da fonte. A diagramação está muito boa: tamanho bom das margens, letras e espaçamento grandes, folhas em papel pólen mais grossinhas.
"(...) o que não se realiza também não morre: permanece intocado, desejado, mágico!" (página 175)
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