Mila 03/09/2016
Ao ler o título do livro “O impostor que vive em mim”, de Brennan Manning, o próprio leitor já começa a preparar suas autodefesas contra essa entidade. “O impostor desconcerta, dissimula e seduz” (MANNING, 2002, p.6), ele maquia o nosso verdadeiro eu, escondendo-se em elogios, sucesso e bajulações. Porém, a proposta de Brennan difere da nossa primeira reação, comprovando um sentimento em nós que ele irá tratar no decorrer do livro.
Antes de tudo, é preciso afirmar que o impostor não é apenas um hospedeiro, mas sim, parte de mim. “Para alcançar aceitação e aprovação, o falso eu suprime, ou camufla, sentimentos, impossibilitando a honestidade emocional “MANNING, 2002, p. 19). Essa atitude inconsciente que tomamos reflete nossa falta de auto aceitação diante de nós, e diante de Deus, uma vez imperfeitos e cristão. “É necessária uma profunda conversão para aceitar que Deus é inflexivelmente terno e compassivo conosco da maneira como somos – não a despeito dos nossos pecados e culpas, mas com elas. “ (MANNING, 2002, p. 10) Segundo Brennan, muitas vezes nós deixamos de crer nesse amor incondicional devido à essa ausência de auto aceitação (p. 11). Porém, nossas fraquezas e imperfeições são características fundamentais de nossa humanidade, características que precisam ser assumidas, uma vez que, por meio delas, restaura-se a condição humana a um estado de cura. Brennan também traz outro aspecto importante sobre a auto aceitação: quando eu não aceito o meu eu ferido, e não aceito o amor incondicional de Deus, o meu amor pelo próximo se torna estreito e restrito. Uma vez que eu não me perdoo por minhas falhas, não sou capaz de perdoar as falhas do outro.
A leitura do texto nos leva a percepção de que, em alguns momentos de nossa vida, nós somos como um fariseu. A minha não auto aceitação me leva muitas vezes a ser preconceituoso por não entender o outro. Para Brennan, o fariseu em nós é a face religiosa do impostor (p.52), e a única maneira de triunfar sobre ele é sendo sincero e honesto sobre nós mesmos. Isso abrange afeto, insegurança, medo. O nosso triunfo implica na nossa crença no Jesus ressurreto que me leva a encarar o impostor em mim, como também outras perspectivas, tal como a morte, uma vez que tenho a paz da segurança de não depender de mim. (p.64) Diante disso tudo, notamos que o preconceito é dirigido, primeiramente, a nós mesmos. Agora, com o impostor exposto à luz, nossos sentimentos dirigidos a ele tendem a ser quase de todo ruins e desagradáveis, sendo ele o maior culpado por nos prender dentro de uma máscara e nos afastar do amor de Cristo. Segundo Brennan, “ O impostor começa a se encolher apenas quando é reconhecido, acolhido e aceito. “ (MANNING, 2002, p.45) Caso contrário disso, o preconceito contra nós mesmos ainda existiria, já que o impostor faz parte de mim, assim como uma célula; o “eu” verdadeiro só irá sobrepujar o impostor quando este for exposto à luz de Cristo.
O eixo principal que fundamenta o livro é a afirmação de que, em todo tempo, nós somos transformados à imagem de Cristo. Cada detalhe e acontecimento seguem esse para esse objetivo. É a medida em que somos verdadeiramente reconciliados com Deus e conosco, e ousamos viver como homens e mulheres perdoados. Sem dúvida, uma das frases mais marcante sobre o livro foi a declaração de Brennan ao dizer que “O amor é chave para tudo. Viver e amar são a mesma coisa. ” (p.101). E que assim, “Conhecendo quem ele é, descobrirá quem você é: filho de Deus, em Cristo, nosso Senhor. “ (MANNING, 2002, p.103).