Gabriel 08/06/2020
Original e surpreendente!
Cidades mal assombradas, lendas e mistérios fazem parte de qualquer receita para uma boa história de terror. Em "Prisioneiros do Inverno", tais elementos são entrelaçados e criam uma narrativa imersiva e assustadora. West Hall, desde sua fundação é cercada de mistérios e o que não falta são casos de eventos mal explicados, como aparições fantasmagóricas, bruxarias e inúmeros casos de desaparecimentos. A Mão do Diabo, uma formação rochosa encontrada nas florestas da região é como um ponto turístico e diversos moradores locais relatam aparições de Sarah Harrison Shea e de sua filha, Gertie, ambas mortas em 1908 após terríveis acontecimentos. Além de rondarem as florestas, o espírito da mulher também já foi visto próximo de estabelecimentos comerciais e casas do vilarejo, deixando um rastro de morte, loucura e destruição.
Sarah sofreu muito na vida após inúmeras tentativas frustradas de gerar uma vida e a cada fracasso, o sentimento de perda e luto a consumia. O nascimento de Gertie pareceu aplacar seu terrível destino, no entanto, após o acidente que custou a vida de sua garotinha, Sarah enlouquece e tenta encontrar uma forma de trazer sua amada filha de volta. Obviamente, mais uma tragédia viria assombrar a família: Sarah fora brutalmente assassinada. Alguns anos se passam e a sobrinha de Shea encontra nos pertences da tia seu diário que é publicado como um livro, contando a versão de Shea para os terríveis acontecimentos, no entanto, dizem as lendas locais que o diário não estava completo: Algumas páginas estavam perdidas e, segundo diziam, nelas Sarah descreve o complexo ritual capaz de trazer os mortos de volta à vida.
Esses são alguns elementos que compõem o thriller com ares de produção Hollywoodiana escrito por Jennifer McMahon e com excelente trabalho de tradução de Ana Carolina Mesquita. Em uma rápida leitura da sinopse, pensei em ter mãos um livro "comum", já que a narrativa não é a das mais originais. Assombrações, espíritos, demônios e outras criaturas já foram massivamente exploradas em obras do gênero, mas ainda sim se torna algo positivo, pois permite que cada autor trabalhe com sua própria versão e faça de maneira original. É nesse sentido que Prisioneiros do Inverno me surpreendeu de maneira muito positiva, já que seu enredo complexo é bem construído e apresentado ao leitor. A produção do livro em si também é bem curiosa, já que a narrativa se divide de forma simultânea, ocorrendo em dois períodos distintos: Em 1908 com Sarah e no presente (acredito que seja em meados de 2015, ano de lançamento da obra) onde conhecemos as outras duas protagonistas da obra: Ruth e Katherine. A primeira é uma adolescente que não crê em nenhuma das histórias do vilarejo e não vê a hora de iniciar a universidade e se mudar para longe. Um dia ao acordar, nota que sua mãe havia sumido sem deixar nenhum rastro e, ao investigar as coisas da mãe em busca de provas, encontra um exemplar do diário de Sarah e alguns outros itens estranhos. Junto com sua irmã mais nova, Ruth começa a investigar o misterioso desaparecimento de sua mãe e a jovem se vê obrigada a confrontar a verdade sobre suas origens e seu passado que se encontra intrínsecamente ligado com a história de West Hall. Já Katherine é uma jovem que acaba de se tornar viúva. Ainda abalada com a repentina partida de Gary, ela resolve refazer os passos de seu marido em seu último dia de vida que a levam diretamente para West Hall. Katherine então se muda para o vilarejo na esperança de encontrar respostas para o estranho comportamento do marido. O que Sarah, Ruthie e Katherine tem em comum? Além do sentimento de perda e luto, o vilarejo tirou das três alguma pessoa amada de suas vidas.
Fãs de terror e suspense facilmente identificam semelhanças com uma das obras mais marcantes de todos os tempos: O Cemitério, de Stephen King (preparem-se, pois irão vê-lo muito ainda por aqui), já que a autora explora exatamente a possibilidade de trazer os mortos de volta à vida. Uma vez despertos, andarão sob a terra por sete dias e depois partirão para sempre. Tais criaturas são chamadas de dormentes já que, quando retornam, não são exatamente como eram, mas se transformam em figuras confusas e famintas, incapazes de falar ou demonstrar sentimentos. É um tema recorrente? Sim, é, mas não se enganem: A autora sabe explorar muito bem a temática e consegue criar um enredo muito coeso, imersivo e original. Há tanta tensão durante toda a leitura e eu fiquei SIMPLESMENTE obcecado pela história. A autora acerta em cheio e o ritmo não cai em momento algum, a medida que apresenta para o leitor as vidas e particularidades de cada uma das protagonistas.
É um livro que cumpre o que promete e que vai te prender por toda a leitura, eu garanto. Mcmahon aposta na curiosidade pra prender o leitor que mantém os olhos grudados no livro até o último capítulo, torcendo e criando teorias sobre o que de fato aconteceu. Prisioneiros do Inverno é um ótimo thriller, mas que não vejo sendo muito comentado entre nós. E ah, pra quem é assinante do Kindle Unlimited, o mesmo encontra-se disponível, é só baixar e aproveitar. :)