Liachristo 25/06/2020
Instigante
Nas profundezas da floresta de Vermont, em West Hall, é possível encontrar a Mão do Diabo, um conglomerado de rochas que se assemelham aos dedos de uma mão muito grande. Nas proximidades, existe um pomar que produz frutos amargos e malformados. Na cidade de West Hall, existem muitas histórias e lendas de fantasmas, embora com muito poucos fatos sólidos para apoiar as histórias assustadoras de crianças desaparecidas.
Prisioneiros de Inverno de Jennifer McMahon, é um romance interessante sobre uma pequena cidade onde as pessoas desaparecem e cultivam animais para serem abatidos. Ninguém sabe para onde essas pessoas vão ou por que esses animais são mortos. Muitos gostariam de acreditar que alguns se vão para escapar da vida sem graça que tem nesta comunidade pacata, mas outros sabem a verdade ... ou pelo menos acham que sabem.
A atmosfera é bem construída e tem uma boa execução em praticamente todo o livro. McMahon cria uma história que é muito atraente no início. As meninas estão desaparecendo sem deixar rastro, os animais são encontrados mortos, mortos violentamente, as crianças são trancadas em suas casas quando a escuridão cai. A terra é misteriosa, há sussurros de bruxas vivendo em cavernas, espíritos morando dentro de troncos de árvores. Enquanto lia, pude honestamente sentir o vento frio, pude imaginar a floresta invernal, pude ouvir botas andando com passos pesados na neve. A trama, embora seja sobrenatural em essência, é bastante crível e tem muitas cenas domésticas que são arrepiantes e agourentas. Esses recursos, combinados com Sara, Ruthie e Fawn, que são personagens muito interessantes, me garantiram uma boa leitura.
Nosso relacionamento com os mortos é sempre algo interessante e meio que proibido. Tem pessoas que estão tão investidas em ver seus entes queridos que fariam qualquer coisa para vê-los novamente, apenas por alguns segundos ou até por dias. O único problema é que esses mortos podem voltar e acabar não sendo algo que vamos querer ter por perto.
Esta é uma bela história de fantasmas, habilmente tecendo acontecimentos misteriosos entre 1908 e os dias atuais (2014, quando foi lançado). Com foco no poder que os mortos têm sobre os vivos, mantém um tom apropriadamente misterioso sem exagerar. Uma outra coisa que achei muito interessante é o fato do livro ser narrado pro protagonistas femininas, todas muito bem trabalhadas e diferentes entre si. Mulheres que nos mostram a força ou a fraqueza que surge das perdas.
Eu gostei muito da primeira parte do livro, mas depois de uns 70% lido, a história começou a caminhar para um rumo meio que diferente, e já não me sentia tão envolvida quanto antes. E acabei achando que seu final deixou um pouco a desejar. Mesmo assim a autora tem uma ótima narrativa que consegue nos envolver e nos manter curiosos sobre o que assombra tão terrivelmente essa cidade.
Se você gosta de histórias sobrenaturais, pungentes e que sabem mesclar o passado e o futuro de maneira interessante, esse livro pode ser uma boa pedida para você.