Pandora 07/06/2024O último trecho tem spoiler - com avisoEstou triste por avaliar mal este livro. Porque sabe quando você quer levar um livro para todo canto? Quer acordar mais cedo para ler algumas páginas? Quer ficar lendo até mais tarde e só para porque é vencida pelo sono?
Primeiro: uma história que se passa numa cidadezinha. Adoro esse cenário. A West Hall deste livro fica em Vermont, um estado do nordeste dos EUA repleto de florestas e com invernos de frio e neve. Também há alternância entre épocas: 1908, quando vive Sara Harrison Shea e um século depois, quando seu diário, que fora publicado em livro, ainda causa furor. Como acontece em praticamente todas as histórias que leio que alternam entre passado e presente, o passado me parece muito mais interessante, mas ainda que no presente a única personagem que me cativava fosse uma garotinha de seis anos, Fawn, conforme a narrativa ia avançando, eu me envolvia mais e ficava curiosa sobre o rumo da história.
Mas então fui chegando naquele momento em que certos mistérios têm que ser explicados, algumas desconfianças esclarecidas e, aqui, ou isto não aconteceu ou a resolução foi pífia. E mais: por uma atitude na página 220 e todo o desenrolar a partir da 275 eu fiquei convencida que uma menina de seis anos, mesmo com febre alta, era mais inteligente, esperta e sensata do que todos à sua volta. Virou um pastelão. Infelizmente. Comecei achando que ia dar 5 e acabei no 2,5.
ALERTA DE SPOILER (Não conto a história, mas discorro sobre o mote desta narrativa)
Uma coisa que talvez seja um spoiler, mas sobre a qual gira a história deste livro - e portanto não me absterei de comentar - é que existe a teoria de que seja possível ressuscitar um morto através de um ritual de feitiçaria.
Ter de volta um ser querido falecido já foi tema de um dos livros mais famosos de Stephen King, O cemitério, que virou filme; de Ressurreição, de Jason Mott, que virou série no AXN; do episódio Volto Já, da segunda temporada de Black Mirror; e eu nem vou citar a Bíblia.
Por que essa fixação em não deixar as pessoas descansaram, se se diz tanto que quem morre “vai para um lugar melhor”? Egoísmo? Carência?
Neste Prisioneiros do Inverno existem os dormentes, que são pessoas ressuscitadas através de um ritual para que, digamos assim, seus entes queridos possam se despedir; então eles ficam neste plano por sete dias. Mas há uma exceção: se um dormente assassinar um ser humano e derramar seu sangue dentro destes sete dias, este dormente ficará desperto por toda eternidade. Lógico que não podia dar boa coisa.
Fico pensando que, caso realmente isso fosse possível, o que levaria alguém a pensar que um ser morto voltaria do mesmo jeito como era quando vivo e não alguma coisa malformada. Afinal, seja lá o que aconteça conosco após a morte, não há como negar que há uma transição, seja pra baixo da terra, seja pro além, ou pra pegar a barca de Caronte. Que maluquice é essa que faz alguém desejar reverter a única certeza desta vida? E por que alguém iria querer vagar como um zumbi? Não sei vocês, mas depois daqui eu quero é dormir.