Luiza Helena (@balaiodebabados) 28/07/2020Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/"Vazia é a vida sem liberdade, Darrow. Vazio é viver acorrentado pelo medo, pelo medo das perdas, pelo medo da morte."
Fúria Vermelha era uma história que há muito queria conferir mas só enrolava e enrolava. Esse ano eu tinha proposto ler os três livros em um mês, mas ainda bem que não fiz isso pois a TBR iria flopar real. No fim das contas, foi um bom início de série.
De início tudo é muito confuso e eu estava só o meme "quem é esse povo todo aqui". Isso se deve ao fato de que, nas primerias duas partes do livro, é muita informação sendo bombardeada ao leitor. Pierce tenta de ambientizar na política e sociedade daquele Marte colonizado, mas isso acaba por deixar a leitura um pouco maçante e confusa.
Fúria Vermelha é narrado por Darrow, um jovem de 16 anos mas com uma alma de alguém que já viveu por longos e tortuosos anos. Eu sempre estranho quando personagens tão jovens possuem amarguras e ressentimentos de gente adulta, mas é bastante compreensível por tudo que ele já viveu.
"Fui forjado nos intestinos deste mundo duro. Afiado pelo ódio. Fortalecido pelo amor."
Darrow é um Vermelho e essa casta é considerada a escória da sociedade. Do outro lado, passando por várias e várias cores, temos os privilegiados da situação chamados de Ouros. Inclusive gostei muito de como o autor segregou por cores sua sociedade porque é algo bem realista, visto que até hoje a nossa própria sociedade ainda segrega as pessoas por cores; por vezes de uma forma velada, por outras de forma escancarada mesmo. Quem nunca se revoltou quando na manchete sobre alguém acusado de tráfico de drogas, se for negro o nome empregado é traficante, mas se for uma pessoa branca, é dito qualquer outra coisa menos a nomeação certa? Enfim...
"O homem não pode ser libertado pela mesma injustiça que o escravizou."
O livro é dividido em quatro partes e a partir da metade da segunda, a história começa a ficar interessante. Darrow descobre que tudo sobre sua vida é uma mentira e agora ele faz parte de um grupo revolucionário chamado Filhos de Ares. Não vou entrar muito nos pormenores aqui, por motivos de spoiler, mas depois de uma super makeover, Darrow é enviado para se infiltrar entre os Ouros.
Nesse momento, a história toma um rumo que eu nem tinha passado pela minha cabeça. Eis que, junto com Darrow, caímos em uma espécie de Hunger Games Mars edition. Entretanto, essa espécie de Jogos Vorazes de Pierde Brown é muito mais violenta e cruel. Há descrições bem gráficas de violência, mutilação, assassinato e até menção a estupro. Então fica aí um super alerta de gatilho.
Darrow é um personagem bem tons de cinza. Fiel ao seu povo, mas também sabe que terá de deixar seu lado Vermelho se quiser ajudar nos planos de uma revolução. Ao mesmo tempo que ele precisa ser uma pessoa violenta e cruel, ele também consegue manter um instituto de moral e compaixão, o que pode ser sua ruína em certas situações.
"Um homem deve ser medido pelo que faz quando está no poder."
Os personagens secundários também tem um grande espaço nessa história, principalmente do lado de Darrow. Com certeza ele faz mais inimigos que amigos, mas dentre os que estão (inicialmente) do lado dele, destaco Mustang e Sevro. Sevro é o típico personagem que morde primeiro (literalmente) e pergunta depois, mas parece ter encontrado em Darrow alguém que possa confiar e ser leal. Já Mustang é uma moça bastante inteligente e calculista, mas também com um grande senso de moral.
Fúria Vermelha cumpriu bem seu papel de abertura de série. Possuo somente duas ressalvas na história: uma situação na reta final que me pareceu fácil demais e um início meio atropelado de romance, mas nada que vá atrapalhar a experiência na leitura.
"Sou a esperança do meu povo. De todos os povos cativos."
site:
https://www.balaiodebabados.com.br/2020/07/resenha-555-furia-vermelha.html