livrodebolso 14/10/2019
A empatia, quase sempre, é um bom sentimento a ser cultivado; quando olhamos para a vida da perspectiva do outro, passamos a entender seus anseios e frustrações. Porém, nem sempre uma interferência positiva será benéfica.
Henry James apresenta, com sua narrativa impecável, o retrato de uma menina curiosa e cheia de vida, se transformando em uma senhora amarga e arrependida.
Trazida de sua terra natal para a Inglaterra por sua tia, Isabel conhece seu primo Ralph, com quem estabelece amizade instantânea e, com a morte de seu tio, acaba por herdar considerável soma de dinheiro. A intenção era das mais altruístas quando Ralph convenceu seu pai de que a prima era quem mais merecia a herança, visto que seu desejo de viajar e conhecer o mundo era impossível por sua falta de capital. Entretanto, o rapaz não contava com a sequência de seu ato que, somando-se à ingenuidade de sua protegida, acabaria em terrível consequência. Isabel recusou todas as propostas de casamento enquanto ainda era pobre, e quando escolheu seu cônjuge, julgando a benevolência de suas intenções, não poderia ter-se enganado mais.
Sua alma aventureira e independente, as intenções de expandir seu conhecimento e sua vontade de experimentar tudo quanto podia, toda a sua particularidade, enfim, foram esmagadas pela responsabilidade como esposa e madrasta.
A maestria com que conduz o enredo nos deixa espantados e cabisbaixos quando as revelações nos demonstram quão cruéis e calculistas podem ser aqueles que colocam seus interesses antes de tudo e de todos. A objetificação do ser humano, uma peça a ser movimentada no jogo dos outros, sem nenhum cuidado com seus sentimentos e necessidades, é o pano de fundo mais perturbador do livro. Henry James nos alerta sobre nem tudo ser o que parece, e que uma boa intenção pode transformar a melhor das vidas no pior pesadelo. .
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Não posso deixar de mencionar os aspectos feministas do pensamento da menina Isabel que, escritos por um homem do século XIX, são muito satisfatórios e transcendentes; terrível refletir sobre quantas mulheres incríveis se perdem nas mãos de homens autoritários...