Helder 28/05/2016Uma boa estóriaVikas Swarup é um diplomata que escreve livros pensados. Ele realmente tem trabalho para montar seus livros. Deve montar um diagrama, pois se esforça para que sua estória não tenha furos. Foi assim com seu primeiro livro que gerou o filme Quem Quer Ser Um Milionário. Ali, nada era o que parecia. Seu personagem tinha um motivo especial para estar naquele programa de premiação e o destino acabou o distanciando de seu real objetivo e lhe levando em direção ao grande prêmio, em um livro que é quase uma obra de arte em seu roteiro perfeito.
Aqui ele tenta fazer algo parecido, mas acabou ficando um pouco mais superficial.
Sapna Sinha é uma indiana comum, que perdeu o pai e uma irmã e hoje precisa trabalhar numa loja de eletrodomésticos tipo Casas Bahia para manter a mãe depressiva e a irmã que sonha em ser uma estrela de Bollywood. A vida segue difícil, até que um dia ela está num templo e é parada por um milionário que diz que deseja lhe aplicar 7 testes, os quais ele tem certeza que ela passará, e como recompensa lhe fará CEO de sua empresa de 10 bilhões de dólares.
Como acreditar em tal oferta maluca? No começo ela rejeita a ideia, tendo certeza que aquele cara é um maluco, mas Vikas Swarup conta com o destino, e este traz mais percalços para a vida já pesada de Sapna, que acaba sem alternativas, a não ser aceitar participar dos testes.
Mas o milionário é mais excêntrico do que parece, e não é ele quem cria os desafios, mas sim a vida. E assim, a cada capitulo Sapna passa por uma provação, e de acordo com sua intuição e caráter, acaba sempre tomando decisões assertivas. E a cada “teste do destino” vamos conhecendo um pouco mais da Índia. Ela se envolve com casamentos arranjados por clãs, estrela de cinema de Bollywood, submundo de reality shows, fabricas clandestinas com trabalho escravo infantil, greve de fome contra a corrupção e até comercio clandestino de órgãos.
As descrições da Índia só me fazem ter cada vez menos vontade de conhecer este país, pois é pobreza e corrupção demais, até para nos brasileiros.
No fim, o milionário sempre consegue saber que ela conseguiu se safar de um problema e lhe mostra que aquela lição que a vida lhe deu, pode ser usada no dia a dia de uma empresa.
Parece piegas? Às vezes é.
Mas como disse, este autor gosta de livros pensados, e aí descobrimos que a vida e o destino não são tão cruéis sem uma mexidinha humana. No começo as “ações do destino” só mexem com Sapna, mas de repente parece que este jogo perde o controle, atingindo características meio psicóticas e a envolvendo até em um assassinato. Será que este era o objetivo desde o inicio?
No final, assim como em seu primeiro livro, Vikas consegue nos surpreender. Eu já desconfiava do vilão, mas nunca tinha imaginado seus reais motivos.
Não é tão bom quanto seu primeiro livro, mas vale a leitura. Com certeza te faz virar as páginas rapidamente para saber como tudo aquilo vai terminar.