Infinita Ishtar 14/05/2023
Hmmmm
Lembro de Breton falando, no início de Nadja, sobre como sentia vontade de conhecer melhor o íntimo de escritores que o interessavam. Meu Coração Desnudado é algo assim.
Aprecio muito a obra de Baudelaire e toda a sua contribuição para a literatura moderna mas, para ler livros como esse, que revelam o íntimo de um autor, é preciso estar preparade para conhecer melhor a pessoa, não unicamente sua criação.
Baudelaire traz ideias muito interessantes, claro (me empolguei muito com suas reflexões sobre a imortalidade das ideias e das formas, sobre o tempo, o jornal e sobre a poesia), mas também alguns pensamentos que me dão até um certo nojo (como quando fala da "necessidade de bater nas mulheres". Mesmo que essa ideia seja acompanhada de uma reflexão interessante ("Pode-se castigar o que se ama. [...] Isto implica, porém, a dor de desprezar o que se ama."), é evidentemente misógina. Muitos escritos nesse livro, aliás, me fazem crer que ele era um Incel do seu tempo (sei que é preciso pensar no autor como um "homem do seu tempo" para não cometer anacronismo, mas isso nao significa que não despreze esse tipo de ideia, que me parece até replicada com exagero no livro)).
Enfim, como disse anteriormente, ler esse tipo de "Diário Íntimo" -para citar a própria obra- é sinônimo de um certo preparo mental relacionado ao aprofundamento na personalidade de certo artista. Fiquei triste por perceber, em Baudelaire, algumas coisas que me incomodam, mas isso não significa esquecer a preciosidade das Flores do Mal ou do Spleen de Paris. Trata-se de um grande escritor, com ideias ora interessantes, ora repulsivas.