Coisas de Mineira 05/10/2021
Hoje viemos apresentar “Dois irmãos”, a história de Milton Hatoum, transformada em quadrinhos por Fábio Moon e Gabriel Bá e lançada em 2015 pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras.
Em “Dois Irmãos” conhecemos a história dos irmãos gêmeos Yaqub (o mais velho) e Omar (o caçula), que da mesma forma que se parecem muito fisicamente, não têm nada em comum na personalidade. Enquanto um irmão é centrado e estudioso, o outro gosta da diversão, farra e da vida tranquila. Quando um desentendimento acaba com Omar ferindo Yaqub, o irmão mais velho é enviado para longe, enquanto o caçula fica em casa. A separação, acaba colocando mais rancor na relação dos dois.
Esse é o enredo de “Dois irmãos”, uma história muito conhecida pelas pessoas. Ganhadora do prêmio Jabuti de melhor romance em 2001 e com uma minissérie da Globo, baseada na obra, exibida em 2017, eu ainda não conhecia a história dos gêmeos, então o quadrinho foi meu primeiro contato. Quero dizer que a leitura foi algo bem fluída e rápida, em dois dias já havia terminado de ler.
“Alguns de nossos desejos só se cumprem no outro. Os pesadelos pertencem a nós mesmos.”
Havia um tempo que não lia quadrinhos, então fiquei meio apreensiva ao pegar essa história, ainda mais por não ter lido o romance. Minha apreensão logo caiu por terra, quando percebi que a história estava fluindo com muita naturalidade. Na verdade, até rápido demais. Me vi querendo saber sobre qual seria o fim daquela família e daqueles irmãos, por isso, acabei presa entre as páginas. Os quadrinhos estão belíssimos e eles conseguiram me contextualizar na história.
Não conhecemos apenas a relação dos irmãos e sim da família como um todo. Além da conturbada relação dos irmãos, temos o pai, Halim, que nunca quis ter filhos. Ficamos sabendo como o amor dele por Zana era o suficiente para ele, e como nunca se aproximou dos filhos. Zana, a mãe dos gêmeos, por sua vez, era uma mulher que sabia como conseguir o que queria.
“Quando o destino de um filho está em jogo, nenhum detetive do mundo consegue mais pistas que uma mãe.”
Desde o início podemos ver isso, quando ela consegue dobrar Halim e ter filhos. Depois mais para frente vemos como ela vira uma mãe superprotetora que acredita que ninguém é bom o suficiente para seus filhos. Como ela tem um carinho gigantesco pelo caçula e por isso, acaba “passando um pano” em todas as coisas que ele faz. Mas não acredite que por carinho, Zana é uma boa pessoa. Ao longo da história conseguimos ver as manipulações que ela consegue fazer.
Temos na história também Domingas, uma empregada (que para mim faz parte da família), que está com eles desde que era criança, antes dos gêmeos nascerem. Domingas tem um papel intrigante, para mim, na vida dos gêmeos e vou deixar vocês descobrirem isso no decorrer da leitura. Além dos gêmeos, a família conta com Rânia, a filha mais nova, que para mim, acaba por seguir o caminho da mãe, sabendo manipular, mesmo que pouco, as pessoas.
“Só Yaqub permaneceu debaixo da seringueira. Ele e sua frase incompleta. A reticência, o ruído de sua vida.”
Toda a trama é narrada por uma pessoa, que aos poucos vamos percebendo ser o filho de Domingas. Apesar de ser tratado como da família, ele não sabe quem é seu pai, apenas que Halim sente uma afeição por ele. Mas vou deixar que vocês descubram sobre isso no decorrer da história.
Em “Dois irmãos” temos um livro centrado na briga dos irmãos, então temos acontecimentos desde a infância até a vida adulta dos dois, sempre com os confrontos entre eles e mostrando a diferença de vida e personalidade dos dois. Apesar de ser focado nos gêmeos, podemos ver também como a estrutura familiar acaba sendo propícia para a briga e sobre os conflitos existentes na família.
Quero ressaltar que todos os personagens presentes na história, possuem muitos defeitos, acredito que é isso que faz com que ela seja tão boa. Tem uma frase que sempre escutei na minha família “tudo o que é muito é ruim, todo excesso é ruim” e com isso vou falar do amor. Na história podemos ver o tamanho do amor presente, de Halim por Zana, de Zana com os filhos, mas podemos ver como esse excesso de amor é ruim e como ele traz grandes problemas.
“O que mais preocupava Halim era a separação dos gêmeos. (…) Durante anos Omar foi tratado como filho único, o único menino.”
Fábio Moon e Gabriel Bá são gêmeos, que nasceram em São Paulo e publicaram seu primeiro fanzine de quadrinhos em 1992. Formados em Artes Plásticas, os irmãos receberam os prêmios HQ Mix de melhor fanzine e artistas revelações por “10 pãezinhos”. Eles receberam também o prêmio Jabuti, em 2008, pela adaptação do clássico de Machado de Assis “O alienista”. Há mais de 20 anos produzindo quadrinhos para o mercado brasileiro e internacional, “Daytripper” um de seus livros, estreou em primeiro lugar na lista dos mais vendidos do The New York Times, ganhando diversos prêmios.
Milton Hatoum nasceu em Manaus em 1952 e estudou Arquitetura na USP. Sua estreia na ficção foi com “Relato de um certo oriente” (1989), que foi vencedor do prêmio Jabuti. “Dois irmãos” foi seu segundo romance (2000) e foi traduzido para doze idiomas.
E aí, já conhecia a história de Milton Hatoum e o quadrinho dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá?
“Deixou na casa a lembrança forte de duas cenas ousadas: o desfile com farda de gala e o encontro com a mulher que ele amava.”
Por: Ana Elisa Monteiro
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