Maria Ferreira / @impressoesdemaria 28/11/2016Ficção pulsante de realidadeA narrativa começa no Rio de Janeiro, em setembro de 2016, com uma cena já em andamento e o suspense que será característico até o findar do livro. Logo no prólogo, o leitor depara-se com uma cena que é impactante: a explosão do Cristo Redentor. Esse é o marco inicial para uma série de outros atentados a diversos monumentos históricos ao redor do mundo, em países que são potências mundias: Estados Unidos, Japão, Itália, França. A única coisa que o leitor sabe, é que tais atentados estão ocorrendo por mandato do Chefe. Não se sabe quem é, mas que é uma pessoa extremamente inteligente, dada toda a trama armada para concretização de seus planos.
Após os árabes, Síria e Irã, assumirem a autoria dos ataques, a ONU reúne os principais líderes dos países atingidos, para decidirem quais serão suas posições diante dos ataques. Decidiram por uma ofensiva militar e assim inicia-se uma guerra. O Brasil, então, envia seu exército e convoca novas pessoas para alistamento.
Enquanto isso, está acontecendo nos EUA, a corrida presidencial. O atual presidente, Willian Tyler, compete com o novo candidato, James Fillmore.
Conhecemos Thiago, um típico jovem de classe média alta, mimado pela mãe, filho de um dos homens mais poderosos do Brasil e futuro herdeiro da Brasil Petros. Em sua primeira aparição, está levando uma bronca do pai por ter causado um acidente de trânsito que deixou vítimas fatais, mas Thiago comporta-se de forma displicente, deixando claro que não se importa com as vidas que interrompeu e dizendo que a família seria consolada com a indenização que receberiam.
Logo a seguir, conhecemos Enzo, um policial do BOPE, que após falhar em operação e não conseguir conciliar sua vida profissional com a vida familiar, é afastado do trabalho. Sua esposa, alcoólatra, cobra mais atenção ao filho, que presencia as brigas constantes do casal. Após um trágico acidente, Enzo encontra-se sem perspectivas na vida, até que com com os recrutamentos para serviços na guerra, vê uma nova chance de fazer-se útil.
Thiago, por armação do sócio de seu pai, vai servir no exército e assim, o destino dele e de Enzo se cruzam.
Mensageiros da morte é o nome dado a um grupamento especial, composto por oito homens, que tinham como objetivo sair em missões para sondar o posicionamento do inimigo e com isso antecipar ataques. Thiago e Enzo fazem parte desse grupo. Em seu primeiro encontro desentenderam-se, mas ao longo do livro a relação dos dois vai melhorando. São os personagens mais bem trabalhados, que nos permitem acompanhar sua evolução ao longo da narrativa. Principalmente a de Thiago, que de um filhinho de papai idiota, transforma-se completamente. A guerra muda as pessoas e sua forma de se relacionarem com o mundo.
O autor brinca com o espaço-tempo, indo e voltando na narrativa e pontuando datas. Em um capítulo está no Rio, em outro está em Washington, Damasco ou Estados Unidos, em 2014 ou 2016. Recurso narrativo que promove fluidez na leitura e aumento do suspense. Além disso, fica a sensação de que o livro daria uma boa adaptação para o cinema. Conta, também, com capítulos curtos, que faz com que a leitura seja rápida e dinâmica.
O livro é narrado em terceira pessoa, o que permite vizualizarmos melhor o que está acontecendo em escala mundial e nos permite um certo distanciamento crítico.
Com uma narrativa mais do que concisa e extremamente adequada normativamente, o livro é permeado de suspense e surpresas do início ao final. Queremos saber quem é o Chefe, o motivo dos atentados e onde o autor quer nos levar com cada nova informação inserida, pois nada, absolutamente nada, é sem propósito. Quando percebemos que tudo se encaixa e começam a surgir explicações para alguns de nossos questionamentos, damos de cara com um epílogo que ao invés de nos acalmar, só nos faz ficar boquiabertos e desejar que a continuação saia o mais breve possível, pois além de terminar de uma forma surpreendente, o pensamento que fica é que se este é o romance de estreia do autor, os demais certamente serão tão bons quanto, ou quem sabe, até melhores.
É um livro de ficção que pulsa de realidade, com um enredo tão plausível, que guerra e jogos políticos vestem-se de iminência.
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