spoiler visualizarleportom 19/08/2022
O movimento real da Natureza....
Aqueles que se aventuram à explorar o significado de dialética, bem como da ciência e do método materialista filosófico, esta obra é surpreendentemente necessária. De forma elementar, ainda mais caso você, como eu, seja um cientista ambiental...
Os marxistas têm, com a ciência, uma dupla conexão. Em primeiro lugar, os marxistas a estudam como parte como parte de outras atividades humanas e procuram mostrar como as atividades cientificas de qualquer sociedade dependem de suas várias necessidades e, assim sendo, em um sentido mais amplo, de seus métodos de produção; e finalmente como a ciência transforma esses métodos de produção e, dessa forma, tende a modificar a sociedade em seu conjunto.
A ciência, na concepção marxista, é dialética, pois depende das contradições, do movimento real do objeto, das conexões entre suas infinitas determinações, entre outras características. Não cabe resumir o que é dialética em um conjunto de leis programadas. No entanto para ter uma maior clareza dos escritos de Marx e de Engels, e de qualquer pesquisador que tenha suas bases no materialismo, de que a teoria, o conhecimento científico, nada mais é do que a reprodução ideal do movimento real do objeto.
A teoria nada produz, apenas reproduz no mundo das ideias, na razão, na abstração, o movimento real do objeto estudado, suas determinações, mudanças, transformações quantitativas e qualitativas, opostos e semelhantes, e suas relações com o entorno (sendo esse entorno composto por sujeitos, cultura, política, economia, Natureza, etc.). Só é possível compreender a realidade tendo em vista sua concepção histórica e cambiante, mutável. Sendo assim, seria o conhecimento relativo?
Se adotado o termo relativo para o sentido de que a depender das condições materiais, históricas e concretas, como por exemplo o avanço do conhecimento científico, de categorias e determinações que antes não se faziam visíveis ao processo de abstração da realidade e do objeto; avanço tecnológico e de técnicas de pesquisa mais refinadas, então a resposta é sim. O conhecimento é relativo as condições que o condicionam. Entretanto, uma das premissas da base materialista filosófica é a crença de que o ser humano pode, contudo, apreender a verdade.
O conhecimento é cambiante à medida que as condições em que se permite empreender investigações também o são. Com isso, vale apontar que a produção de verdades não é o objetivo da teoria e da pesquisa, o critério para verdade, no marxismo, está na prática social. No campo da abstração, da razão, e da teoria, vale-se apenas a reprodução do conhecimento, ou em alguns casos a produção de conhecimento (que ocorre apenas em três situações, quando o conjunto de matéria racional sobre determinado fenômeno se encontra insuficiente, mistificada e ou seja inexistente).
Nesse sentido, retorno ao conceito de dialética, para parafrasear Engels, ao afirmar que “A dialética cerebral é apenas o reflexo das formas de movimento do mundo real, da Natureza como história.” (p. 127). Com isso Engels sinaliza que a Natureza, suas diferentes formas de existência, de movimento, só podem ser plenamente conhecidas através do exercício da dialética.
O autor também abandona conceitos comumente utilizados nas ciências ambientais ao se referir a natureza. Alerta para o estado ilusório de equilíbrio. Num sistema vivo não há estado de equilíbrio (igual à zero), todos os (ecos)sistemas estão constantemente sendo influenciados de forma mecânica, física e ou química, de forma a alterar sua ‘identidade’ (assim como o são todos os indivíduos vivos). No entanto, como sistemas complexos, estes sempre tendem ao equilíbrio, que é relativo e ilusório pois a cada nova perturbação que o põem em movimento o equilíbrio é destruído. Sistemas vivos, e dessa forma, complexos estão sempre em movimento. (movimento é constante e o equilíbrio é relativo)
“Tanto a ciência da Natureza, como a filosofia, descuidaram inteiramente, até agora, investigar a influencia da atividade humana sobre o pensamento […] Mas é precisamente a modificação da Natureza pelos homens (e não unicamente a Natureza como tal) o que constituiu a base mais essencial e imediata do pensamento humano, e é na medida em que o homem aprendeu a transformar a natureza *[mediada pelo trabalho]* que sua inteligência foi crescendo.” (p. 139) - Grifo meu.