Codinome 19/12/2019
Um pouco sobre "As veias abertas da América Latina"
O livro é basicamente dividido em duas partes: “A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra” e “O desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos do que navegantes”. Na primeira parte, temos um panorama do que foi a colonização na América Latina a partir de um olhar econômico, histórico e social; principalmente se balizando pelas matérias-primas de cada território. Já na segunda, são trazidas explicações de como funcionaram esses mecanismos políticos e econômicos para a exploração: um enfoque principal é dado, nessa parte, ao chamado império britânico e os “imperialistas” Estados Unidos, um termo jargão muito utilizado por Galeano.
Vale lembrar que o livro foi publicado em 1978, em uma época que se vivia na geopolítica da Guerra Fria, sendo o livro parte de um discurso vindo da esquerda da balança: isso fica bem claro nas fortes defesas que são feitas a Cuba em capítulos específicos e no ataque frontal ao capitalismo que é feito desde o mercantilismo, passando pelo liberalismo de Adam Smith, até chegar os dias contemporâneos à época em que Galeano escrevia.
Na primeira parte, entendemos a história dos países colonizados pela Espanha e por Portugal através das riquezas das terras da América, com casos emblemáticos: a prata em Potosí (Bolívia), o ouro em Ouro Preto (Brasil), o açúcar, a borracha, o cacau, o algodão, o café, o petróleo, o estanho... A gama de riquezas brutas é vasta e toda essa primeira parte somos convidados a compreender como essa fartura acabou trazendo muitos males a esses territórios da América Latina: apesar de ter gerado dinâmica no comércio das regiões e assim fazendo determinadas cidades crescerem, no entanto, devido à dependência de produtos específicos e não renováveis (pensando nos metais), com o fim dessa alta procura, as cidades acabaram decaindo também.
Essa dependência aos colonizadores e ao mercado externo é a principal crítica, ao meu ver, feita por Eduardo Galeano. Por ser um livro escrito já há quase 50 anos, muitos dados do século XX que ele nos passa podem ser que já tenham mudado, valeria a pena, ao final, a curadoria do livro ou o editor trazer alguns dados atuais comparativos: principalmente os relativos à pobreza e à tecnologia (chama atenção o abismo tecnológico dos países, por exemplo: em 1970, havia menos de 1000 computadores na América Latina e 50 mil nos Estados Unidos de acordo com o escritor).
A segunda parte não deixa de ser um livro manifesto contra o capitalismo, o livre comércio, os Estados Unidos e os governos militares da época. E, pensando no contexto geopolítico da época, a solução que subentende-se são os governos planificados de regimes socialistas como de Cuba e URSS. Desse modo, os aspectos contemporâneos ao livro deixam soluções poucos elogiáveis a série de dificuldades apresentadas pelo autor.
Acredito que seria interessante ler a respeito desses mesmos assuntos por algum outro autor menos a esquerda da balança e enriquecer o debate.