@shaneingrado 11/04/2021
Esta resenha é totalmente subjetiva e parcial.
O ano era 1997. Eu tinha apenas 6anos na época, mas mesmo assim ainda me lembro bem de como aconteceu. Meu irmão mais velho voltou pra casa um dia com um livro que ele pegou na biblioteca da escola. Esse livro era O Fantasma da Meia-noite.
Lembro de ver a capa e ficar completamente obcecado. A face assustada das crianças com o fantasma de uma bela jovem flutuando de forma etérea. Aquilo me apavorou e me encheu de curiosidade. Eu precisava ler esse livro. Mas temos um problema aí, como disse eu tinha apenas 6 anos, e apesar de ser bem avançado ainda não conseguia ler sozinho, foi assim que começou minha saga para convencer minha mãe a ler o livro pra mim. Ele dizia que eu era muito pequeno pra uma história de fantasmas, que eu ficaria muito assustado e não conseguiria dormir, todas essas coisas que as mãe dizem quando querem nos proteger. Apelei para a única coisa que uma criança pode fazer, birra.
Chorei dizendo que eu já era um homenzinho (não era) e que estava preparado pra uma história de terror (não estava). E com muita insistência e uma ajuda do meu irmão (e uma certa barganha, lembro de ter lavado toda a louça naquela semana) finalmente convenci minha mãe a ler O Fantasma da Meia-noite para mim. Foi uma grande vitória. Lembro que passei o dia animado, contando as horas para chegar a noite e ela fazer a leitura do primeiro capítulo.
Minha memória fica um pouco nublada depois disso, não lembrava de grandes partes do livro, lembrava apenas das partes boas na verdade. Lembro também que meu irmão e minha mãe se revezaram na leitura, toda noite um deles lia alguns capítulos pra mim. Estava acostumado a minha mãe ler alguma historinha antes de dormir, mas foi a primeira vez que meu irmão, que é 15 anos mais velho, fazia Isso e, por mais bobo que pareça, isso criou um laço entre nós dois. Lembro que o último capítulo foi ele quem leu. Ele deu um sorriso no final, antes de ler a última frase. "Uma piada que o fantasma fez" disse ele. Hoje na releitura dei o mesmo sorriso.
Me senti muito corajoso, tive alguns pesadelos com o fantasma, mas isso não me afetou, e não falei sobre isso com minha mãe, eu não podia dar o braço a torcer. Mas isso me instigou, muito. Eu precisava ler mais histórias assim. Então pedia para minha mãe me ajudar a ler mais. E assim ela fez. Boa parte da minha alfabetização foi feita em casa. Com 7 anos, quando entrei na primeira série, meu nível de leitura era equivalente ao de um aluno da terceira. Eu já lia alguns livros sozinho, sem ajuda de ninguém, quando não entendia uma palavra eu buscava no dicionário. Isso rendeu muitos elogios das professoras na época, e despertou minha paixão pela leitura.
Com 9 anos eu já lia os livros da Agatha Christie da minha mãe. E nunca mais parei de ler. E tudo começou com esse livro. Essa pequena fagulha que iniciou o grande incêndio que inflama meu coração. O amor pela leitura.
Hoje, com a releitura desse livro, vejo que ele era muito melhor na minha lembrança. Mas isso não importa. Ele sempre será 5 estrelas no meu coração.