spoiler visualizarSilvia Larissa 24/12/2018
EDUCAÇÃO E SOCIOLOGIA, ALGO ESSENCIALMENTE SOCIAL
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978. p. 33-91.
Resenhado por: Silvia Larissa dos Santos1
Sociólogo francês de renome mundial, Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o pai da Sociologia moderna. Professor de Sociologia e Pedagogia na Sorbonne e líder da chamada Escola Sociológica Francesa, foi o fundador da revista L’Année Sociologique, em 1896. Educação e sociologia (1978) foi dividido em 3 capítulos, publicado após a sua morte, constrói uma crítica à maneira demasiadamente ampla com que foi utilizada a palavra educação ao longo do tempo, e afirma nesse sentido um novo paradigma para a Educação. Podemos dizer que sua perspectiva de Educação gira em torno de três grandes temas: a sociedade, o Estado e a família. Sua obra foi escrita durante um momento de consolidação do capitalismo na Europa. Educação e Sociologia tem grande importância ao trazer qual realmente deveria ser o papel do Estado, da Família e Religião em matéria de educação e como esta se organiza.
Tendo isso no primeiro capítulo, Durkheim lança duas críticas em relação a qual seria a finalidade da educação. A primeira foi sobre Kant, que afirma que o fim da educação é desenvolver em cada indivíduo, “toda a perfeição de que ele seja capaz”, ou seja, o desenvolvimento de todas as faculdades humanas, sendo o desejável, porém, Durkheim traz que “não menos imperiosa à uma regra de conduta que obriga a nos dedicarmos a uma tarefa restrita e especializada”.
Tal tarefa pode levar à fragmentação da sociedade, e para que não haja a perda da “coesão social”, seria preciso que, durante a especialização, todos os indivíduos passassem por um fundo comum, como por exemplo, uma disciplina comum a todos os cursos, que ensinasse os mesmos valores.
Outra definição utilitária conforme o autor, é a de James Mill, é a de que, à educação tem a finalidade de fazer o indivíduo “instrumento de felicidade”, porém a felicidade é muito subjetiva, exigindo com efeito certo equilíbrio entre o organismo e o meio, por conseguinte, indeterminando mais uma vez, o fim da educação.
Tais autores , segundo Durkheim, partem do postulado de que a uma educação ideal, perfeita, uma educação universal, mas, se antes de o fazer, considerassem a história, não encontrariam nada que apoiasse tal hipótese. Pois a “educação varia infinitamente no tempo e no meio”. De que serviria idealizar uma educação que levasse à morte da sociedade, “É preciso levar em conta os sistemas educativos e ver neles um conjunto de atividades e de instituições, que foram lentamente organizadas com o tempo, que não podem ser mudadas à vontade, mas só com a estrutura mesmo da sociedade”, ou seja, há em cada sociedade um tipo regulador de educação, do qual não nos podemos separar sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes.
Na segunda parte de sua obra, Durkheim trata da natureza e método da Pedagogia. Já de início, sua preocupação é diferenciar a Educação, da Pedagogia. Se a educação é uma ação exercida por adultos – pais e professores – sobre as crianças, a Pedagogia consiste “não em ação, mas em teorias”, maneiras de conceber a educação, não de praticá-la. A Pedagogia consiste em uma maneira de refletir sobre a educação (DURKHEIM, p. 56, 1978). Isto tem reflexo em uma perspectiva de continuidade inerente às práticas educativas e também a certa descontinuidade, partindo do princípio que a Pedagogia pode assumir caráter intermitente (DURKHEIM, p. 57, 1978).
Contudo, Durkheim ressalta a possibilidade da Pedagogia – como teoria prática – apoiar-se sobre a Ciência da Educação e a Sociologia. No primeiro caso, para “saber o que a educação deve ser” (sua natureza), já com relação ao apoio sociológico um reforço para fixar objetivos e definir métodos (DURKHEIM, p. 67, 1978). Com relação ao papel do pedagogo, seria o de reduzir ao mínimo as chances de erro a partir da junção de fatos instrutivos com o máximo de método (DURKHEIM, p.78, 1978). Eis a importância da pedagogia: diminuir a disparidade da defasagem entre sistemas escolares e necessidades atuais, restabelecendo a harmonia entre ambos, um “auxiliar constante e indispensável da educação” (DURKHEIM, p. 80, 1978). Em tempos de práticas educativas cada vez menos impessoais, a Pedagogia ganha cada vez mais força sendo elemento indispensável.
No 3 capítulo, é discutido a Pedagogia e a Educação, com um destaque maior à importância da ação educativa, onde os modos que se desenvolvem e formam-se os sistemas de educação dependem da religião, da organização política, do grau de desenvolvimento das ciências do Estado, das indústrias, entre outros. Portanto, deve-se deixar de lado tudo o que é educação tem sido, e indagar o que ela deve ser. Por isso a educação deve reconhecer os valores do presente, não os futuros ou do passado. Durkheim não usa a educação como forma de instituir um novo modelo de sociedade, mas sim de manter sua estrutura e funcionamento.
Durkheim nos faz um alerta, apesar da educação ser é essencialmente social, o estado não pode desinteressar-se dela. Todavia, não caberia ao Estado impor uma comunhão de ideias e sentimentos, sem a qual a sociedade se organiza, pois essa comunhão é espontaneamente criada.
Embora tudo o que seja educação deva estar submetido até certo ponto à influência do Estado, “não se deve monopolizar o ensino, sendo necessário, que exista certa margem para a iniciativa privada, sendo assim, no que se segue nessas, não deve, tornar-se estranho o que nelas venha passar. Pelo contrário, toda a educação deve estar submetida à fiscalização”. Por esse motivo o autor defende que Estado tem obrigação de manter o sistema educacional.
Segundo ele
“em cada um de nós, existe dois seres que, embora não possam ser separados ainda assim, não deixam de ser distintos. Um é constituído de todos os estados mentais que não se relacionam senão conosco mesmo e com os acontecimentos da nossa vida pessoal: e o que poderia ser chamado de ser individual. O outro é um sistema de ideias, sentimentos e de hábitos que exprimem em nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte; tais são as crenças religiosas, as crenças e práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas de toda a espécie. Seu conjunto forma o ser social e constituir este ser em cada um de nós, tal é o fim da Educação” (DURKHEIM, p. 82-83, 1978).
Por fim, o livro aqui resenhado é imensurável, além das inquietações que dele emergem. Esse livro, nos ajuda a entender que a educação é acima de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições da sua própria existência. Consistindo, pois sob qualquer um de seus aspectos, numa socialização metódica de cada nova geração. E que ela é capaz de edificar em cada um de nós, o que há de melhor no homem, o que há em nós de propriamente humano, e isso varia infinitamente no meio e no tempo, nos fazendo compreender que para cada tempo existiu um tipo de educação necessária. Proporcionando, diversas reflexões, dentre essas a respeito do papel do Estado, se realmente o Estado, atualmente está cumprindo com seu papel fiscalizador, ou usando a Educação como uma forma de controle, condicionadora e tecnicista, impondo ideias e comunhões a fim de evitar a formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade. Um livro de grande importância, que deve ser acessado e lido e trabalhado por todos; professores, graduandos, independente da área; estudantes, das escolas de educação básica de nosso país. Para que possamos refletir que cidadão está e se quer formar.
¹ Discente do 2º Período de Licenciatura em Pedagogia – Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – Unidade Acadêmica de Garanhuns – UAG