Cinde.Costa 16/09/2021
Tocante e paradoxal
Li esse livro em função do título e da capa, confesso. Me deparei, porém, com uma história da qual gostei muito e que suscitou em mim três sentimentos conflitantes: empatia pela solidão e inexpressividade cotidiana do Bilodo, repulsa pelo seu hábito de ler as cartas alheias, e curiosidade pelo modo como essa odisseia terminaria. Pois, sim, Bilodo vai se apaixonar por uma mulher que só conhece através dos haicais que ela escreve e vai sentir ciúme do homem que a responde. A narrativa de Denis Thériault, em primeira pessoa, é muito sensível e tende a evocar bons sentimentos na leitura - ainda que, a cada página lida, você pense quão errado é o que Bilodo está fazendo.
Um mérito à parte é a função narrativa dos haicais dentro do contexto. Bilodo aprenderá a escrevê-los e aprenderemos com ele, entrando em um universo de métricas e sentimentos que é muito instigante e bonito, pois um haicai tem o poder de despertar sentimentos potentes com poucas palavras (tem um exemplo de haicai no post). Por isso, essa história ganha um tom poético.
Por fim, o desfecho é aberto, abrupto e chocante, composto por um plot, cujas pistas estavam à vista ao longo da narrativa, mas só vi depois que concluí a leitura. Tal desfecho faz com que sua experiência de leitura seja outra, mas não menos prazerosa.
⚠️ Eu RECOMENDO essa história com prazer. É um livro curto (128 páginas), mas muito rico em camadas e reflexões para nossa vida.
⚠️ A história pode parecer romântica (e é, em alguma medida), mas não esqueçam que abrir a correspondência alheia é um crime federal: Art. 151, Lei n° 2.848, de 1940, do Código Penal. Não custa avisar :)