kleris aqui, @amocadotexto no ig 28/01/2016A vida peculiar de um carteiro solitário fala de fascínios.(Esta resenha teve corte de quotes e imagens do livro; visite o link para conferir)
Sabe aquela história de que é nos frascos menores que estão as melhores fragrâncias? É neste pequeno romance e na vida peculiar deste carteiro que temos um livro incrível. Pensar nele me faz lembrar também daqueles achados (ou perdidos) que se concentram embrenhados em confins de bibliotecas e que guardam enredos extraordinários como pequenos segredos, esperando só um leitor topar ali, sem querer.
Bilodo é um jovem carteiro humilde, sem muitas pretensões e de vida pacata. Enquanto uns são mais propensos a sair para noitadas, Bilodo tem ooooutros interesses, e seu trabalho é certeiro para alimentar um vício secreto: espionar e ler correspondências das pessoas e conhecê-las pelo que escrevem – ele captura as cartas antes de chegarem ao destino e depois devolve, entregando aos de fato destinatários. Esse vício o levou para outro, de stalkear correspondências de dadas pessoas. Nisso, Bilodo acabou se apaixonando por Ségolène. Quer dizer, pelos haicais que esta trocava em correspondências com um homem, que morava na cidade de Bilodo. Com o tempo, quanto mais ele alimenta esse vício, mais barreiras ele se vê tendo que transgredir.
O destino então lhe reserva uma reviravolta que ou findaria seus pequenos crimes contra correspondências alheias ou lhe obrigaria a tomar uma decisão drástica para conseguir manter esse vício. Eis a tragédia: quando o homem com quem Ségolène trocava cartas foi postar a nova correspondência, ele foi atropelado pelo veículo dos correios, onde Bilodo estava. O tal homem, Grandpé, morre ali mesmo e a carta é engolida pelo esgoto por conta do rio que se formou no temporal que caía. E agora, como receber mais cartas de Ségolène? Como matar aquela ansiedade por seus haicais? Como se conectar a essa mulher? Como dar continuidade a essa... paixão?
A vida peculiar de um carteiro solitário fala de fascínios. Resgatando as correspondências, Denis coloca as cartas como as verdadeiras e perdidas almas de uma comunicação que ficou para trás. Quem, afinal, ainda escreve à mão? E cartas? E troca regularmente? E nelas brinca com as palavras, com a vida? Os fascínios aqui transitam desde o fato de escrever cursivas às poesias que as letras e sons e o imaginário podem formar. Agora imagina uma pessoa que é fascinada pelo fascínio dos outros (eu): fiquei apenas APAIXONADA por como o autor descreve, insere e encaixa as construções artísticas nessa trama beeeem peculiar.
A escrita de Denis é uma poesia em prosa e uma prosa em poesia. Já mencionei em algum post por aqui que AMO metaficção e que é um tema de difícil escrita, pois segurar e amarrar a história como deve ser ou se intenta, é bem complicado, é um delinear de camadas de enredos. Para as camadas que envolvem em A vida peculiar, o autor se saiu muito bem, muito ambicioso. Foi deliciosamente singelo e simplório (que me fez amar mais ainda!).
Por tratar-se justo de uma escrita sobre escrita, imaginei que a leitura fosse se mostrar lenta, mas não, ela flui bem rápida e, com 128 páginas, é para uma sentada só. Parece um filme francês, aliás (quero filme já!). Você não encontra muita ação na história, porém, tem umas reviravoltas magníficas. Com pitadas de mistério e suspense, que a verdade seja dita: Denis prega várias peças na gente. Uma preciosidade só!
Para derrubar o forninho de vez, o projeto gráfico do livro é liiiiiiindo demais. A capa é em formato de carta (com um segredo para se espiar) e seus versos têm ilustrações com selos, a diagramação é permeada de carimbos, selos e flores, e como não falar das poesias e haicais? Igualmente bem trabalhados.
Este é o segundo romance deste autor canadense e estou doida para conhecer o primeiro, que foi muito premiado (mas acho que ainda não chegou por aqui =/). Como veem, curti bastante e sim, shippei muito. Vou parar por aqui se não entro nos méritos das jogadas do destino e do tempo.
Segurem aí o meu recomendadíííííííííííííííííííííííííííííííííííííssimo!
P.S.: Acho que Bilodo piraria se visse o insta e/ou o livro do Eu me chamo Antônio.
site:
http://www.dear-book.net/2016/01/resenha-vida-peculiar-de-um-carteiro.html