Ana Lima 15/01/2018É isso: finalmente consegui ler Os dois mundos de Astrid Jones, um livro que estava na minha wishlist há, pelo menos, dois anos. Digo que valeu a espera, que livro meus caros! Com uma escrita poética e narrativa em primeira pessoa, conhecemos uma adolescente de 17 anos que está começando descobrir o mundo a sua volta, trabalhando em seu primeiro emprego e tomando lições sobre filosofia na escola que a inquietam pelo restante do dia.
Com tanta coisa acontecendo é inevitável que a cabeça de Astrid vire uma bagunça, porém, não há válvula de escape no mundo real: com pais pouco interessados na sua vida, ela resolve o conflito de uma maneira muito simples, deitando no quintal de sua casa e contando sua vida aos passageiros dos aviões que avista no céu. Cada passageiro tem sua própria história, que pode ou não ser real, mas de fato, agora eles fazem parte da vida real de Astrid.
O mais interessante desse livro é que cada uma das aflições de Astrid com certeza já passou pela cabeça da maioria dos adolescentes, pelo menos os da minha geração. Se hoje, aos 23 anos, não tenho certeza de quase nada na minha vida, imagina a Ana de 17? E o livro mostra isso de uma maneira real. Sem querer fazer comparações, mas citando o que sempre ouço sobre os personagens do John Green, que muitas vezes são distantes da realidade, os personagens em Astrid Jones são reais até demais.
E as situações, incrivelmente, também. Tudo é muito real. Tudo é muito identificável, apesar da excentricidade da protagonista. O medo de mostrar seu real interior para uma cidadezinha preconceituosa e interessada na vida alheia não é um medo único, é um medo que, no fim das contas, acabamos descobrindo que toma conta da sua melhor amiga, do namorado da sua melhor amiga e daquela garota super bacana que trabalha contigo limpando camarões.
Sem querer dar spoilers (mas talvez já dando), por fim, o livro me ganhou ao mostrar representatividade. Ao mostrar que, às vezes, não precisamos de rótulos pra apenas sentir as coisas, não precisamos gostar de homens ou de mulheres e sim de pessoas. No fim das contas, tudo é só uma questão do corpo com o qual viemos ao mundo, porque alma, caráter, empatia e todas as qualidades e defeitos que pudermos listar são construções sociais.
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