Bia 02/01/2017Obra incrível e inteligente! M R Terci se tornou um autor indispensável em minhas listas de leituras, assim como Stephen King. Não é a toa que sempre reservo espaço para suas obras.
Não importa sobre o que ele escreve, sei que estou em território seguro, e dificilmente irei me decepcionar. Aliás, vale deixar claro que ainda não me decepcionei com nada que ele tenha escrito.
Caídos foi uma leitura que muito estimei.
No primeiro livro de uma trilogia, podemos voltar para o século XVI. Eu já contei para vocês o quanto amo livros que se passam em outras épocas; como sei que o autor gosta de misturar fatos históricos à ficção, este já foi um ponto positivo.
Encontramos um suposto necromante, de nome Emanuel. Ele fora apreendido pela Inquisição, e talvez acreditando que realmente seria condenado, passa a contar sua estória para o jovem inquisidor, Pedro.
Emanuel nos conta tudo a seu respeito. Desde sua infância até o exato momento em que fora capturado.
Foi meio estranho ler a respeito da infância de um personagem sem ter dado aquele tempo precioso de conexão leitor/personagem. Fato este que achei muito arriscado por parte do autor, afinal, eu mesma preciso me simpatizar para querer saber mais. Acho que tanto Emanuel quanto seu criador sabem que só a menção de “bruxo” já é capaz de prender o leitor. À medida que conhecia a vida do bruxo, fui me envolvendo por sua pessoa e sua estória. Não consegui ficar imune a todos os dramas romantizados com maestria por Terci. E, diferentemente de outros livros que trazem bruxos como protagonista, em Caídos, temos o prazer de acompanhar o passo-a-passo dessa iniciação.
Se de início eu sentia curiosidade para saber de seus feitiços, de seus poderes, e ainda em como seria essa figura dentro da ficção tão única de M R Terci; com o avançar das páginas queria saber muito mais que isso. Sentia desejo em conhecer a fundo a personalidade de Emanuel, senti pena pelos dramas que ele passou, e medo em muitas passagens que lhe foi necessária para se tornar um bruxo.
Emanuel era necromante e se você não sabe o que é isso vou explicar de forma bem resumida: ele consegue evocar os mortos e ainda se comunicar com eles; utilizando-se de meios não lá muito humanitários.
E assim, conhecemos toda a saga do bruxo, desde sua infância sofrida, sua adolescência cheia de descobertas, até sua fase adulta.
Esse livro despertou tantas opiniões que estou com medo de soar confusa para vocês. Não consigo ser mestre como meus colegas blogueiros que já resenharam a obra; fico até envergonhada por não ser uma parceira tão profissional quanto os demais. Não consigo fazer uma análise crítica, até porque não sou uma blogueira crítica. Como sempre, irei transmitir os meus sentimentos acerca da leitura.
Caídos tem tanta riqueza, que é difícil estabelecer um caminho coerente em minha resenha. Irei começar pela escrita.
Já contei e recontei que o autor resgata nossa língua portuguesa. Em todos os livros do Marcos temos uma linguagem rica, que garante aprendizado. No caso de Caídos, mesmo pra mim que já estou habituada a ler suas obras com frequência, fiquei envergonhada por constatar que sou uma pessoa completamente pobre na minha própria língua. A obra traz um estilo ainda mais rebuscado, acredito que para acompanhar a época do enredo.
Li uma resenha no skoob de um leitor que negativou tal linguagem. Eu acho que ela é justamente um ponto a mais, pois um dos motivos que me fazem ler é justamente para enriquecer meu vocabulário.
Sobre o enredo, mais uma vez pude me encantar. Não sei explicar veemente, mas o autor mistura sua originalidade com elementos místicos que torna tudo mais interessante. Em Caídos ele trouxe a mitologia grega, que tanto gosto. Aliás, a coerência do autor é incrível. Todos os detalhes acerca do tema abordado, e até mesmo da ficção tratada, condiz perfeitamente com a época em que o enredo se passa. Para quem ama história, com certeza é um prato cheio.
Para aqueles que sempre me perguntam o nível de “medo” da obra: temos elementos que causam medo, mas a forma como o autor colocou, foi mais “romantizada” por assim dizer. Isso, se você for ler levando em consideração os verdadeiros bruxos, não os contemporâneos; por favor, esqueçam da base Harry Potter. Senti que para cada acontecimento, houve um preparo maior. Assim sendo, mesmo em cenas com verdadeiro horror, nos sentimos preparados para aquilo.
Aliás, senti ainda uma atmosfera completamente diferente das demais obras. Caídos é um horror mais maduro, mais minucioso. É uma leitura mais clássica e abranda quando comparo com as demais obras que já li do autor.
Por falar em outras obras, também podemos rever personagens. Mas não é como um reencontro. É uma primeira vez.
Aknoth, que tanto elogiei em Os Santos de Colditz - Temporada II, se mostra aqui ainda mais poderoso. Se em Os Santos eu ficava ansiosa por suas aparições, em Caídos sentia receio e até medo. Ouso dizer que Aknoth é o personagem mais traiçoeiro de Marcos, pois nunca consigo saber sua real intenção; se é ajudar ou atrapalhar. Sempre desconfio de seus métodos. É um personagem incrível, cheio de misticismo, inclusive é um dos que, mesmo com toda essa desconfiança, espero reencontrar em outras obras.
Meu ser fantástico contemporâneo predileto, a Tebra, também aparece nesta obra. Foi um verdadeiro presente, pois aqui pude conhecer ainda mais sobre sua origem.
Pra mim, Caídos é a origem de tudo criado por Terci. Por isso, é um livro que sempre terá um espaço vip em minha estante.
Recomendadíssimo!
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