Mariana Ginane 27/08/2020
Feminismo e Desenvolvimento de Consciência de Classe
?Quando falamos, portanto, em consciência militante feminista, referimo-nos, primeiramente, à percepção da mulher como sujeito de direitos, o que exige a ruptura com as mais variadas formas de apropriação e alienação dela decorrentes, especialmente a ruptura com a subserviência que lhe é socialmente atribuída?
Publicado em 2014 por Mirla Cisne (Assistente Social, mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Mulher da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e professora do curso de Serviço Social desta instituição), encerra em suas páginas o valiosíssimo estudo da autora sobre o feminismo materialista.
Em um primeiro ponto, há a definição dos termos essenciais, para depois se analisar o processo de desenvolvimento da consciência de classe e revolucionária, em uma sociedade marcada pela alienação e pela ideologia dominante. Ao longo do escrito, a autora esmiúça as opressões específicas que a mulher sofre nas relações sociais, e discute a formação familiar, a divisão sexual do trabalho (utilizando o conceito de rapports sociaux de sexe), a monogamia e a heterossexualidade compulsórias, bem como a submissão imposta.
Depois, a autora põe-se a analisar a realidade brasileira: o fenômeno de onguização dos movimentos de mulheres no Brasil e, em específico, três movimentos: Associação de Mulheres Brasileiras, a Marcha Mundial das Mulheres e o Movimento de Mulheres Camponesas (respectivamente AMB, MMM e o MMC). Dentros desses movimentos, traz a experiências de mulheres participantes, de maneira anônima, e discute desafios atuais, principais conquistas, financiamento do movimento, entre outros.
A autora deixa claro o quanto é urgente romper com as ideologias de dominação hierárquicas, e que para isso a maneira com qual são socializadas meninos e meninas precisa mudar. Isso faria parte do processo de libertação social.
Enfim, apesar do tema complexo, a leitura do livro é tranquila. Os termos não usuais ao nosso cotidiano são bem explicitados e o conteúdo é colocado com clareza. Além de extremamente informativo, esse livro se gabarita como impulsionador para o processo de desenvolvimento de uma consciência crítica e, ainda, nos inflama ainda mais para a necessidade de mudarmos o sistema vigente no que concerne aos aparatos repressivos.