Silvana Barbosa 27/07/2020Que seja infinito enquanto dure...O livro é sobre viagem no tempo, mas não do jeito simples que conhecemos, com uma personagem que cai de pára-quedas numa outra época. No caso de 𝖀𝖒 𝖆𝖒𝖔𝖗 𝖎𝖓𝖋𝖎𝖓𝖎𝖙𝖔 a mocinha "entra" no corpo de uma pessoa que já estava lá.
Quando terminei de ler esse livro, ele me deixou em conflito. Primeiro porque eu queria comentar sobre minha experiência com ele, principalmente do meio para o final, mas era muito a dizer apenas dentro do "histórico de leitura". Segundo porque eu não sabia exatamente se tinha gostado da história.
Lydia, a protagonista, desde pequena se sente atraída pela pintura de um lorde na galeria de um castelo-museu na Escócia. Regularmente ela deixa os EUA e viaja até o local para reverenciar o tal quadro, que mostra a face de um lorde chamado Darnon. Quando a história começa a autora já situa a mocinha no castelo, após um divórcio difícil. Lydia é uma novaiorquina inteligente, geneticista e farmacologista (convenientemente rs) com pais formados em áreas úteis para os viajantes do tempo e já falecidos (também convenientemente rsrs) e é encantada por coisas antigas, e nessa visita vai até a torre onde, depois de uma rajada de vento especialmente forte, perde o equilíbrio e cai no chão, batendo a cabeça.
Em outra época, ano de 1072, uma jovem saxã chamada Brianna, enamorada de um jovem chamado Galan, descobre que sua união com o homem que ama está em risco com a chegada do guerreiro Damron, lorde do clã Morgan, que foi premiado pelos reis Malcolm da Escócia e Guilherme (ou William) da Inglaterra com as terras de Riddley, e, como era comum para que os vassalos aceitassem melhor o conquistador do feudo, também a mão de sua herdeira. A herdeira é Brianna Sinclair, já que sua irmã mais velha, Alana, é abadessa e não pode casar-se graças a uma promessa (mal-explicada) do pai delas. Brianna foge de seu destino a cavalo, encontra justamente o Noivo Escocês e uma tropa de normandos que o acompanha. O resultado é que ela acaba literalmente caindo do cavalo.
Ao cair e bater a cabeça no chão, Brianna sai completamente de cena, em seu lugar entra Lydia.
Enquanto Lydia acha que está dormindo e vivendo um sonho, tá tudo bem com a leitura. Ela tem respostas engraçadas e a história vai fluindo levemente. Quando ela percebe que está mesmo presa na pele de uma donzela medieval, as coisas começam a mudar, e uma atmosfera mais densa vai tomando o livro.
O problema começa aí, pelo menos para mim. Lydia passa a reconhecer a lembrar de tudo que viveu na Nortúmbria, não como se acessasse as memórias do corpo onde habita, mas como se as tivesse vivido. Ora, se ela fosse uma reencarnação da Brianna, como a autora parece querer dizer, o que teria acontecido a Brianna de sua época? Estava morta? Não é o que tentam passar. Mais lá na frente o Bleddyn, melhor amigo místico e algo como irmão mais velho adotivo além de leitor de mentes da mocinha explica que são a mesma pessoa, com a diferença da vivência que teve no futuro... Sei que o negócio é meio confuso, e portanto, ficou difícil entrar no clima. E a coisa vai enveredando por outras trilhas, tomando outros rumos... As camadas são várias, porém todas superficiais.
Outro ponto é que esperei para me apaixonar pelo mocinho, processo pelo qual regularmente passamos junto com a mocinha.
Não aconteceu pelo meu lado.
Não consegui entender como a mocinha se apaixonou pelo ogrinho dúbio, fiquei o livro todo incomodada pela situação do Galan na trama (esse sim um mocinho que parecia um encanto) e para ser franca não sei nem porque o lorde Damron se apaixonou pela "noiva" que recebeu junto com as propriedades, já que se bicavam o tempo todo enquanto ele não a estava puxando pelo pescoço ou pelo braço, e só tiveram UMA conversa pacífica antes de consumar o casamento.
Quando Lydia se resigna como Brianna a graça da história esfriou ainda mais. Seus protestos sobre o machismo – que eram ótimos no início – acabam e sua preocupação passa a ser não se entregar ao marido e o medo de voltar ao seu tempo deixando o marido a quem adora para trás (?). Confuso para você? Também para mim.
Para complicar, há as pontas soltas que a Nova Cultural deixava ao sempre retalhar os livros para que coubessem na edição que julgava adequada. Bleddyn, que ama Alana, e Alana, que é abadessa por causa de uma promessa de um homem que está morto há anos, tem sua sub-trama vagamente citada, despertando curiosidade, sem resposta. Assim, apesar de tantas descrições sobre locais, roupas, hábitos (não sei se todos corretos, exigiriam uma pesquisa) e o sexo entre o casal principal, a narrativa não se aprofunda no que há de mais interessante: as pessoas que a compõem.
Lá perto do fim vemos um pouco mais do que vai dentro da cabeça do lorde, acontecem umas cenas mais comoventes que deveriam servir para unir o casal, mas então tudo está meio apressado...
Para fechar, uma vilã, responsável pela maior perda dos protagonistas, termina fugindo e deixando um fruto que de certa forma representa sua vitória sobre eles. Isso me frustrou ainda mais, porque vivendo num mundo real tão cheio de injustiças, desejo ao menos que a justiça seja feita numa aventura romântica... Contudo, soube que Lydia/Brianna e Damron (e Bleddyn) ainda podem ser vistos nos outros livros da Trilogia: 2- O guerreiro sem alma e 3 - Amor e vingança. (Planejo ler pelo menos o livro 2)
E tenho certeza que o original, a versão sem cortes de Sophia Johnson é realmente um livrão.
Se eu recomendo, após ter reclamado de tantas coisas? Acredita que sim? Sim, eu recomendo rsrsrs Como disse antes, o livro prende, não dá para largá-lo depois que se inicia, e isso pra mim já é muito bom.