Protestantismo Tupiniquim

Protestantismo Tupiniquim Gedeon Freire de Alencar




Resenhas - Protestantismo Tupiniquim


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Douglas 07/04/2015

RESENHA: Protestantismo Sincrético
“Antes de acusar a Igreja Batista desse adesismo e deslumbramento com os EUA é bom lembrar [...] que esta síndrome acontece em todo o país” (p. 65).

Alencar possui uma forma de escrita muito abrasileirada e abundante em senso humorista. Este acadêmico que é bacharel em Filosofia pela UECE, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista e doutor na mesma área pela PUC-SP, trabalha em Protestantismo Tupiniquim as possíveis (ou não) contribuições do protestantismo na produção da cultura brasileira.

O supracitado serve como parâmetro no desenvolvimento deste trabalho, pois o autor insiste na afirmação de que seu texto é uma análise sociológica e não teológica das questões nele abordadas (p. 09). Portanto, o questionamento sobre a herança americana na Igreja Batista certamente tem importância dentro do conteúdo, pois a contingência sociológica deve abranger, com um olhar não menos crítico, outras esferas da sociedade. Desta forma, percebemos que o Brasil é um país que manifesta uma cultura “estrangeirocêntrica”, de forma que não apenas o protestantismo de imigração dá maior valor ao que “vem de fora”, mas também a sociedade brasileira como um todo.

A multiculturalidade brasileira está basicamente conectada às origens do descobrimento (mais certamente das invasões) e, sendo produto deste fenômeno, o sincretismo que atinge as diversas esferas sociais não pode ser nula na esfera religiosa. “O Brasil é hoje o resultado de uma conjugação cultural imensa” (p. 26).

Se pensarmos que a cultura é produto da humanidade em contato com o ambiente, logo o esforço de demonizar tudo o que é cultural (principalmente os aspectos afro e católico romano de nossa herança) – que é vívido no protestantismo brasileiro – é vão. Deduzimos então, que o ambiente evangélico no país, por mais que tente escapar das influências culturais tidas como “profanas”, jamais o conseguirá, visto que somos incapazes de nos isentar do que de fato somos produtos.

É notável a crítica que Alencar faz aos aspectos ainda anglo-saxônicos do protestantismo brasileiro. Fala sobre o estilo americano que caracteriza nosso protestantismo; o americanwaylife, o gospel e o Jesus Day (p. 77). Notemos, porém, que a colocação do autor (citada no início deste trabalho) pode nos fazer pensar que, talvez, o modo brasileiro de ser protestante (americanizado) seja um produto cultural e que, no período atual, seja acultural dizer que enquanto brasileiros devemos abandonar este estilo tão fortemente enraizado no protestantismo. Vemos então, que americanizar não é defeito de protestante brasileiro, mas é coisa de brasileiro em si, e que já é característica cultural. Neste aspecto, a solução não seria negar tal realidade, mas julgar os extremos.

Não podemos deixar de considerar as abordagens que Gedeon Alencar desenvolve sobre o neopentecostalismo. Para o autor, é “muito fácil criticar o neopentecostalismo e suas práticas culturais modernas” (p. 81). Esta afirmação é muito contundente entre os protestantes de cultura “pura”, que criticam o movimento, principalmente por suas características sincréticas. Vejamos que, como já foi mencionado, o Brasil é um país de cultura sincrética, e que isto é produto do processo de colonização – entre outros fatores como, por exemplo, a exploração do minério, o processo de industrialização e a Segunda Guerra Mundial (cenário em que o Brasil serviu de refúgio para povos de outras etnias) – e que sincretismo no Brasil é, portanto, produto cultural e não uma escolha feita a partir de uma suposta neutralidade do indivíduo. Para tanto, ainda sobre o neopentecostalismo como alvo da crítica da “ala pura” do protestantismo, Alencar afirma: “[...] como se todos os demais segmentos cristãos fossem absolutamente puros” (p. 81); e para reforçar seu argumento, afirma que todos os ramos do cristianismo sofreram influências diretas pelo menos do judaísmo e do helenismo (p. 81). Para concluir este assunto, cabe uma citação do autor: “neopentecostalismo é a expressão mais brasileira do protestantismo” (p. 88).

A obra de Alencar – como se espera a partir do título – não quer por fim sobre as (não) influências evangélicas na cultura brasileira e, por isso, não oferece uma conclusão a respeito do movimento protestante e seu futuro neste país continental de culturas diversificadas. O autor, em suma, foge dessas conclusões como podemos observar: “seria uma temeridade fazer previsões, vaticinar” (p. 147), ou “se somos tudo isso de bom ou ruim, não tenho certeza” (p. 35, grifo meu). A maneira como Gedeon escreve é prova de que não podemos nos despir de nossa cultura, de nosso meio; não podemos fugir daquilo de que somos produtos.

Neste exercício de reflexão, percebemos que choque cultural termina mesmo em assimilação cultural, onde os diferentes acabam, voluntariamente ou não, cedendo ao sincretismo – mesmo quando isto lhe é negado por conseqüência de possíveis preconceitos. Entendemos então, que a negação de determinados aspectos culturais não devem se dar antes de serem, primeiramente, avaliados. Devemos desenvolver análises mais criteriosas antes de taxar toda a cultura como profana e, antes de tudo, assumir que dela somos fruto (incontestavelmente).

Protestantismo Tupiniquim: hipóteses sobre a (não) contribuição evangélica à cultura brasileira pode ser uma leitura bastante agradável aos estudantes da sociedade brasileira. Em contra partida pode causar espanto àqueles acostumados (e talvez o termo mais apropriado seja “domesticados”) a buscar em suas leituras, tratados teológicos dogmáticos de caráter, geralmente, absolutista e inquestionável. Acreditemos que Gedeon queria, de fato, atingir a estes!
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