Wellington 09/06/2021
O Rumor do Tempo e Viagem à Armênia – 3,5
Este não é um livro para mim.
Começarei pelos pontos positivos: há poucas, mas boas passagens sobre a cultura judaica dentro da Rússia pré e pós revolucionária, isso em O Rumor do Tempo. Também há relatos dos países bálticos – muito diferentes de como são hoje, aparentemente, o que infere valor histórico. Quanto à referida viagem do título, traz alguns cenários interessantes da Armênia, de como seu povo vivia, de peculiaridades das relações. É outro belo exemplar da Coleção Leste, da Editora 34, com tradução impecável e excelentes notas explicativas. Gostei mais do posfácio que do livro, e aqui voltamos a ele.
Não há diálogo, não há história; é uma obra memorialística, quase um diário de divagações, que mescla aspectos biográficos (na primeira parte) com impressões esfumaçadas de um país (segunda parte). Fala-se sobre pessoas que transitaram na história do autor, lugares, personalidades da época, minúcias... E, bom, é isso.
A quantia de notas explicativas mostra quão próximo você deve estar do contexto para entender o cenário. Que me importa saber o nome de uma rua? Por que devo conhecer uma figura passageira da história do autor? Se tais eventos fossem munidos de ímpar sensibilidade, de amostras de como isso impactou sua vida, etc., eu teria gostado. Mas é uma escrita que exige imaginação. Põe alguns dados na frente do leitor e este que monte o quebra-cabeça, que encontre o motivo da exposição. O livro, em si, me pareceu estéril. Não senti curiosidade a respeito da próxima página; só queria acabar logo. Obviamente, minha leitura da segunda parte foi prejudicada por quão enfadonha me foi a primeira: já tinha emburrado com o autor.
Então chega o longo posfácio para me ajudar. É como se dissesse: “note a musicalidade da escrita”... Ah! É, faz sentido. “Veja o cenário conturbado, por isso que a escrita também o é”... É, pode ser. Depois, Mandelstam escreveu um poema satírico contra Stálin; foi preso, solto, preso de novo e morreu “doente, faminto e enlouquecido” (sic) numa estação de trem a caminho dos trabalhos forçados na Sibéria. Outra curiosidade: “Viagem à Armênia” era para ser um relato fidedigno daquela jovem nação soviética; foi contratado pelo governo para tal. Porém, produziu esta obra, “em associações de puro lirismo” (sic).
Recomendo o livro para... Hm. Para quem gosta de poesia, talvez; isso aqui é prosa, mas é bem poética. Para quem precise de relatos ou fontes da época. E para quem tenha curiosidade mórbida sobre ruas que trocaram de nome.