Zeka.Sixx 03/10/2019
Relato de uma paixão bêbada e destrambelhada
O livro, com tons autobiográficos, conta a história da paixão obsessiva de um escritor por uma garota metade negra, metade índia, na São Francisco dos anos 50.
Escrita no estilo característico de Kerouac - um fluxo de pensamento ao extremo, quase sem vírgulas e com longas frases e parágrafos -, a novela é permeada de um lirismo fascinante, o caráter confessional tragando o leitor para aquele cenário de porres homéricos, andanças de bar em bar, brigas, discussões, ciúmes e reflexões sobre o sentido da vida, sempre naquele espírito de viver o hoje como se não houvesse amanhã.
Retratando o que hoje se convencionou chamar de "relacionamento tóxico" - aqui, em particular, por culpa de ambos os parceiros, já que Leo e Mardou são completos porras-loucas -, "Os Subterrâneos" consegue nos fazer entrar na pele do narrador, entendendo suas atitudes, por mais destrambelhadas que sejam, tamanha a honestidade e a paixão com que as palavras são colocadas no papel. Se não chega a ser um "On the Road", o clássico definitivo de Kerouac, também não fica devendo muito ao irmão mais famoso.
"Mas eles eram os herdeiros dessa terra e sob esses céus imensos eles eram os preocupadores e lamentadores e protetores de mulheres nações inteiras reunidas em torno de tendas - agora o trilho que passa por cima dos ossos dos antepassados deles leva eles pra frente em direção ao infinito, fantasmas de humanidade pisando leve a superfície do chão tão profundamente supurada com o fruto do sofrimento deles que basta cavar um pouco para achar a mão de um bebê".