Fabio Pedreira 16/11/2020Uma fantasia obrigatória para todas as idades A História Sem Fim é um livro de fantasia que recomendo para absolutamente todos. Vou dizer o porquê.
O livro vai contar a história de Bastian Baltasar Bux, um garotinho gordinho que acaba entrando em uma livraria para se esconder de outros garotos que o perseguiam. A loja pertence a Koreander, um senhor estranho que não gosta de crianças. Os dois começam um diálogo e no meio tempo o telefone da loja toca. Ao ir atender, Baltasar acaba sendo atraído pelo livro que o velho tinha na mão o que faz com que o jovem se precipite e acabe roubando o livro, indo se esconder na escola para lê-lo sem parar. E é aí que a aventura começa.
Mas se engana quem pensa que o personagem principal é Bastian, (pelo menos não no ínicio). A História Sem Fim basicamente se divide em duas histórias, sendo a jornada de Atreiú a primeira. Já na segunda, aí sim vamos ter Bastian como principal. Quando Bastian começa a ler, nós vamos acompanhar as aventuras de Atreiú, um jovem guerreiro de uma tribo que é convocado pela Imperatriz Criança para poder descobrir como salvar o mundo de Fantasia do Nada. Isso mesmo, o Nada é o vilão, o mundo de Fantasia vai sumindo a cada dia e cabe a Atreiú descobrir o motivo.
Essa parte do livro é, a meu ver, simplesmente fascinante, me fazendo favoritar o livro antes mesmo de finalizá-lo. É uma parte extremamente metalinguística, em que, como eu falei, não é Bastian o personagem principal, nem mesmo Atreiú, mas sim o próprio livro, a própria fantasia (no sentido de imaginação) e o poder que nós temos de criar histórias.
É impossível não sentir uma vibe meio Nárnia ao ler esse livro. Criaturas de todos os tipos, um mundo onde o “protagonista” vai parar lá, uma imperatriz que é a representação de Deus, entre outras inúmeras coisas nas quais alguém poderia facilmente fazer altas dissertações e artigos literários baseados nessa obra. Só que, na minha opinião, esse livro é até melhor que Nárnia. A obra de Lewis é mais voltada para a questão religiosa, enquanto aqui, apesar de ter certa relação, a mensagem principal é… Histórias salvam.
Por isso a questão da nostalgia, é impossível não lembrar dos primeiros livros que a gente leu na vida e se empolgou, que nos fez grudar nesse mundo literário. E me desculpem os outros gêneros, mas aqui podemos ver o poder que tem a Fantasia. Todos os outros gêneros literários nos transportam para uma história, isso é fato e não nego, mas a Fantasia é diferente. Ela é ilimitada, ela cria mundos, criaturas, realiza todos os seus desejos e tudo é possível, possibilitando uma infinidade de mundos onde você pode ler e ser quem você quiser.
Por isso acredito que esse livro deveria ser lido por todos, e, quem sabe, principalmente por aqueles que estão iniciando na leitura e os que têm certo receio em relação a livros fantásticos. Mas, como eu disse antes, essa é apenas a primeira parte do livro. A segunda parte vai nos mostrar o outro lado dessa moeda, contando como percorrer outros mundos é incrível, mas que existem os perigos de se perder nela, que apesar de tudo não podemos esquecer quem nós realmente somos.
Nessa segunda parte, Bastian finalmente se torna o personagem principal, e começa a fazer parte da Fantasia. Ele ganha a possibilidade de transformar seus desejos em realidade, e a obra vai nos mostrando como isso pode ser perigoso, mesmo que você tenha boas intenções.
Uma passagem do livro que ilustra muito bem essa segunda parte é: "E nada tem mais poder sobre um homem do que a mentira. Porque os homens, filhinho, vivem de ideias. E as ideias podem ser sugeridas. Esse poder é o único que conta." Essa passagem é perfeita para demonstrar como o poder de realizar tudo, vai corrompendo Bastian, e como seus desejos podem ser moldados pelas ideias dos outros, fazendo com que se esqueça de quem ele realmente é.
Como nem tudo são flores, apesar de eu favoritar o livro, favoritei com 4 estrelas, isso porque essa segunda parte, apesar de também ser interessantíssima, acaba ficando um pouco alongada demais (o que chega a ser irônico reclamar de ser longo um livro que se chama A História Sem Fim). Não é nada que estrague a leitura, mas com certeza poderia ter sido um pouco menor, e querendo ou não, passa a ideia de um complemento, de que o livro poderia ter apenas uma parte.
Já em relação a edição, ela é belíssima. Cada capítulo começa com uma letra do alfabeto, e conta com ilustrações belíssimas. Além disso, a edição traz essa metalinguagem do livro através das suas letras, elas são verdades e vermelhas. A primeira representando a passagem por Fantasia e a segunda representando o “mundo real” de Bastian, assim como no livro de Bastian. É um detalhe pequeno, mas muito legal.
Mas vou terminar por aqui antes que vire “a resenha sem fim”. Recomendo demais esse livro, para todas as idades e amantes de todos os gêneros literários.