O Seminário, livro 1

O Seminário, livro 1 Jacques Lacan




Resenhas - O seminário, livro 1


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jean 11/12/2022

Lacan busca colocar em questão o implícito de Freud
logo no início do seminário, Lacan diz
que assume a empreitada de colocar em
questão algo que está implícito naquilo que Freud fazia. me parece que ao assumir essa postura Lacan acaba por produzir algo que não estava em Freud, nem mesmo de forma implícita. trata-se, portanto, de subverter a teoria freudiana, de profanar a obra do "pai da psicanálise".

não quero dizer aqui que Lacan renega completamente a obra de Freud, mas que acaba por produzir algo que nada tem de freudiano. bem sabemos da preferência de Freud pela filosofia schopenhaueriana. por sua vez, encontramos em Lacan, de cabo a rabo, referências ao adversário privilegiado de Schopenhauer, a saber, Hegel. além disso, Lacan reconhece a denegação de Freud acerca da afirmação de que sua teoria seria de domínio especulativo, sempre colocando o acento à disciplina dos fatos e à empiria. entretanto, não é o que estaria explícito em Freud que interessa Lacan, mas o que supostamente está implícito. dessa forma, lacan localiza Freud dentro das ciências conjecturais, ou seja, como aquele que disseca não com a faca, mas com os conceitos.

para que não me estenda mais e não reduza às minhas impressões puramente, me volto às questões centrais.

Lacan não tangencia a relação analista-analisando e a intervenção do ego na análise, já que se trata de obter uma readaptação do analisando ao real, é preciso saber se o ego do analista é que dá a medida do real.

outro tema largamente discutido é a transferência, o modo de ação e intervenção nela, e até certo ponto, o papel essencial da neurose de transferência.

Lacan também está preocupado com a falta de consenso entre os analistas acerca do que se trata uma análise. a única coisa que daria condição para a comunicação dos analistas era única e exclusivamente a linguagem freudiana. para expor essa divergência, ele expõe a teoria dos analistas que pensam, a saber, o sr. Ballint, Sr. Fenichel Melanie Klein e Anna Freud; elencando como principais problemas em suas teorias a ideia de que em uma análise se trata de dois indivíduos, a análise das resistências e o fortalecimento do eu.
para Lacan, na experiência analítica "não
há uma two-bodies psychology sem que intervenha um terceiro elemento" (p.21), ou seja, trata-se de uma relação a três. essa formulação é uma chave fundamental para a leitura do seminário, já que o simbólico, esse terceiro termo, é o "pacto que liga os sujeitos uns aos outros numa ação. A ação humana por excelência está fundada originalmente na existência do mundo do símbolo, a saber, nas leis e nos contratos" (p. 299). sem esse terceiro termo, noções como desejo, sujeito, eu, ficam incompreensíveis. é nesse sentido que Lacan pode dizer que a singularidade "ultrapassa de muito os limites individuais" (p. 22). ".Não há nunca uma simples duplicidade de termos. Não é somente que eu vejo o outro, eu o vejo me ver, o que implica o terceiro termo, a saber, que ele sabe que eu o vejo. O círculo está fechado. Há sempre três termos na estrutura, mesmo se esses três termos não estão explicitamente presentes"(p. 283-4)
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Cesinha 30/10/2021

Nos primeiros momentos do "Retorno a Freud" (início dos anos 50) onde seus escritos técnicos são retomados em estudo como forma de reestabelecer confusões que teriam surgido por um afastamento indevido dos passos trilhados pelo fundador da psicanálise. Nesses escritos técnicos de Freis vemos aparecer gradualmente a noção de resistência, a função da transferência, o modo de ação e intervenção na transferência e, até certo ponto, o papel essencial da neurose de transferência.
Qual seria o fundamento de se fazer análise? É reintegrar, pelo sujeito, a história individual até seus últimos limites sensíveis, isto é, até uma dimensão que ultrapassa em muito os limites individuais. O revivido exato não é o essencial, mas sim a reconstrução, reescrita, da sua história. Mas como então, essa prática, como instituída por Freud, chegou a se transformar num manejo da relação analista-analisando, voltado a gerar uma espécia de descarga homeopática da apreensão fantasiada do mundo feita pelo sujeito? Foi em torno da concepção de ego que a técnica tomou esse rumo.
Efetivamente, nos permitimos intervir o nosso ego na análise, já que se sustenta que se trata de obter uma readaptação do paciente ao real, é preciso saber se é o ego do analista que dá a medida do real. O sentido do ego transcenderia o eu? Bom, o eu nasce da referência ao tu e nada sabe dos desejos do sujeito. A imagem do eu resume toda a relação imaginária do homem. Encontramos no paciente toda uma organização de certezas, crenças, coordenadas e referências que constituem um eu. O fim de análise implica uma destituição do eu em proveito do reconhecimento do sujeito. Isso será largamente discutido no próximo seminário.
Outro tema largamente discutido é a transferência. A transferência não difere do amor. Não é interditado que o analista tenha sentimentos em relaçao ao seu analisando, mas deve saber que não deve ceder a eles, mas sim colocá-los em seu devido lugar e servir-se deles na sua técnica. Todas as vezes que nos aproximamos de um complexo patogênico, é antes a parte complexa que pode se converter em transferência que é empurrada em direção ao consciente e que o paciente se obstina em defender com a maior tenacidade. Quando o paciente empaca, há todas as chances de que essa parada no seu discurso seja devida a algum pensamento que se relaciona ao analista.
E claro, o desejo envolve isso tudo. O desejo só existe no plano da relação imaginária do estado especular, projetado, alienado no outro. O desejo do sujeito só pode, nessa relação, se confirmar através de uma concorrência, de uma rivalidade absoluta com o outro. O amor distingue-se do desejo, por isto não se pode falar de amor senão onde a relação simbólica existe como tal. O desejo de ser amado é desejo de que o objeto amante seja tomado como tal, sebmetido na particularidade absoluta de si mesmo como objeto. Os seminários 2, 4 e 8 serão muito úteis para elaborar isso (ou não ...).
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Jess.Carmo 15/06/2021

Lacan pretendia colocar em questão o que estava implícito naquilo que Freud fazia
Logo no início do seminário, Lacan diz que assume a empreitada de colocar em questão algo que está implícito naquilo que Freud fazia. Me parece que ao assumir essa postura Lacan acaba por produzir algo que não estava em Freud, nem mesmo de forma implícita. Trata-se, portanto, de subverter a teoria freudiana, de profanar a obra do pai da psicanálise.

Não quero dizer aqui que Lacan renega a obra do vienense, mas que acaba por produzir algo que nada tem de freudiano. Bem, sabemos da preferência de Freud pela filosofia schopenhaueriana. Por sua vez, encontramos em Lacan, de cabo a rabo, referências ao adversário privilegiado de Schopenhauer, a saber, Hegel.

Além disso, Lacan reconhece a denegação de Freud acerca da afirmação de que sua teoria seria de domínio especulativo, sempre colocando o acento à disciplina dos fatos e à empiria. Entretanto, não é o que estaria explícito em Freud que interessa Lacan, mas o que supostamente está implícito. Dessa forma, Lacan localiza Freud dentro das ciências conjecturais, ou seja, como aquele que disseca não com a faca, mas com os conceitos.

Bem, mas voltemos para o início da questão. Para colocar em questão o que Freud fazia, precisamos primeiro entender o que ele fazia. Segundo Lacan, "o ideal da análise não é o domínio completo de si, a ausência de paixão. É tornar o sujeito capaz de sustentar o diálogo analítico, de não falar nem muito cedo, nem muito tarde. É a isso que visa uma análise didática. A introdução de uma ordem de determinações na existência humana, no domínio do sentido, se chama razão. A descoberta de Freud é a redescoberta, num terreno não cultivado, da razão" (p. 12).

Parece que, ao afirmar que Freud redescobre um terreno não cultivado, Lacan remonta à velha prática da parrhesía, a saber, a forma necessária ao discurso filosófico de dizer a verdade. Entretanto, esse dizer-verdadeiro tão caro aos filósofos não depende apenas do logos, mas também é necessário que exista uma léxis, ou seja, uma maneira de dizer as coisas. Era uma preocupação para os gregos porque era possível dizer o verdadeiro sem que isso tivesse efeitos significativos no discípulo; ou seja, sem que houvesse modificação entre a relação do sujeito com a verdade. Dessa forma, sem a léxis o objetivo do filósofo estaria fadado ao fracasso. É preciso dizer a verdade a partir de uma léxis para que o discípulo possa alcançar a verdade.

O leitor mais atento pode afirmar que se trata de uma grande digressão minha, mas considero que quando Lacan diz que "Freud estava engajado na pesquisa de uma verdade que lhe concernia totalmente, até sua pessoa, portanto também na sua presença diante do doente, na sua atividade, digamos, de terapeuta" (p. 33) - a referência é aos terapeutas gregos, que cuidavam do ser, como diz Hyppolite na página 253. A pesquisa de Freud, na leitura de Lacan, "não é marcada pelo mesmo estilo que as outras pesquisas científicas. O seu domínio é o da verdade do sujeito". Nos remontamos aqui a definição de ciência verdadeira dada pelo psicanalista francês no texto "Função e campo da fala e da linguagem", que estava em Teeteto, mas que se degradou com a "inversão positivista que, colocando as ciências do homem no coroamento do edifício das ciências experimentais, na verdade as subordinou a estas. Essa noção provém de uma visão errônea da história da ciência, baseada no prestígio de um desenvolvimento especializado dos experimentos" (Escritos, p. 285).

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Lacan também está preocupado com a falta de consenso entre os analistas acerca do que se trata uma análise. A única coisa que daria condição para a comunicação dos analistas era única e exclusivamente a linguagem freudiana. Para expor essa divergência, ele expõe a teoria dos analistas que pensam, a saber, o sr. Ballint, Sr. Fenichel Melanie Klein e Anna Freud; elencando como principais problemas em suas teorias a ideia de que em uma análise se trata de dois indivíduos, a análise das resistências e o fortalecimento do eu.

Para Lacan, na experiência analítica "não há uma two-bodies’ psychology sem que intervenha um terceiro elemento" (p.21), ou seja, trata-se de uma relação a três. Essa formulação é uma chave fundamental para a leitura do seminário, já que o simbólico, esse terceiro termo, é o "pacto que liga os sujeitos uns aos outros numa ação. A ação humana por excelência está fundada originalmente na existência do mundo do símbolo, a saber, nas leis e nos contratos" (p. 299). Sem esse terceiro termo, noções como desejo, sujeito, eu, ficam incompreensíveis. É nesse sentido que Lacan pode dizer que a singularidade "ultrapassa de muito os limites individuais" (p. 22). "Não há nunca uma simples duplicidade de termos. Não é somente que eu vejo o outro, eu o vejo me ver, o que implica o terceiro termo, a saber, que ele sabe que eu o vejo. O círculo está fechado. Há sempre três termos na estrutura, mesmo se esses três termos não estão explicitamente presentes" (p. 283-4)

Quanto a concepção do ego e do fortalecimento do eu, Lacan está exaustivamente afirmando que o acento dado a essa instância é a causa de quase todas as dificuldades do nosso campo.

A ênfase sobre a resistência do analisando também se torna um obstáculo na técnica analítica. Para Lacan, a ênfase na análise das resistências não passa de "um acosso do sujeito pelas intervenções do analista" (p. 43). Lacan entende que a ênfase na análise das resistências tornou o campo analítico policialesco. "Eles ficam sobretudo tentando sempre saber que postura o sujeito adotou, que achado pôde fazer, para se colocar numa posição tal que tudo que lhe dissermos será inoperante. [...] Há aí a ideia de uma má vontade fundamental do sujeito. Todos estes traços fazem com que eu acredite ser preciso, ao qualificar esse estilo analítico de inquisitorial" (p. 45). Apesar dessas pontuações, Lacan não rejeita totalmente a análise das resistências, mas diz que é difícil trabalhar com a noção sem a presença de uma violência implícita.


site: https://www.instagram.com/carmojess/
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Lily 14/06/2021

Provocativo
Se tem uma coisa que Lacan faz é me confundir. No entanto, as provocações não deixam de despertar o interesse e ele definitivamente tinha senso de humor. Tem questões pertinentes sobre a resistência e a transferência, mas não deixa de ser complicado.
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Paulo Silas 09/06/2021

O livro 1 dos seminários de Lacan compreende exposições realizadas nos anos de 1953 e 1954, tendo como objeto de estudo e discussões aquilo que enuncia o título dessa primeira obra, a saber, os escritos técnicos de Freud. O texto consiste na "versão escrita e traduzida do que teria sido dito" por Lacan durante os seus seminários, salientando a tradutora da edição brasileira, Betty Milan, que "traduzir Lacan significa abrir numa outra língua o espaço de uma legibilidade ilegível". Como é sabido, a linguagem (dita aqui enquanto termo que abrange o discurso - fala e escrita) utilizada por Lacan é bastante complexa, exigindo-se redobrada atenção em seu estudo.

O livro é dividido em cinco partes. Na primeira, "O momento da resistência", questões como a noção de 'eu', 'outro' e 'resistência' são discutidas, recebendo as defesas especial atenção nos comentários realizados. Na parte seguinte, "A tópica do imaginário", tem-se a análise do caso clínico de uma criança acompanhada por uma das psicanalistas participantes dos seminários ("O lobo! O lobo!"), a partir do qual se iniciam as investigações sobre o narcisismo e o 'ideal do eu' e 'eu-ideal'. Na terceira parte, "Para além da psicologia", as temáticas analisadas são a báscula do desejo, as flutuações da libido e o núcleo do recalque. Na parte quatro, "Os impasses de Michaël Balint", após algumas intervenções sobre a leitura de Balint, a ordem simbólica é explanada a partir da relação de objeto e da relação intersubjetiva. Por fim, a última parte, "A palavra na transferência", traz a função criativa da palavra, estabelecendo o conceito de análise - a partir de onde Lacan estrutura a sua psicanálise.

Lacan abre o Seminário (em aula data de novembro de 1953) destacando que "o pensamento de Freud é o mais perpetuamente aberto à revisão", sendo "um erro reduzi-lo a palavras gastas". É com esse retorno a Freud que Lacan reinventa a psicanálise. Nesse primeiro livro "O Seminário", essa retomada está notoriamente presente, uma vez que as reuniões nas quais Lacan leciona e dialoga com seus seguidores possuem como base quase sempre alguma obra de Freud. A situação analítica como estrutura é exposta nesse livro, além da explanação sobre diversas outras questões pertinentes à psicanálise, tratando-se de um dos tantos passos necessários para se estudar o complexo pensamento de Lacan.
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Jimmy 04/03/2021

Retorno a Freud
Neste livro lemos a interpretação de Lacan, participantes e convidados, sobre o texto "Escritos técnicos", de Freud. Penso ser interessante, portanto, ler primeiramente Freud, a fim de se ter um melhor aproveitamento e mais amplo entendimento das lições lacanianas.
Neste livro temos lições técnicas ao analista, detalhamento da metodologia analítica, bem como um retorno/pensar sobre conceitos essenciais à Psicanálise.
Excelente.
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pi 09/07/2020

https://drive.google.com/file/d/13wAXdmMDYPldo1OlyK5wLi-SnZUrmJAp/view?usp=sharing
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