Crise, Oportunidade de Crescimento

Crise, Oportunidade de Crescimento Leonardo Boff




Resenhas - Crise, Oportunidade de Crescimento


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Rangel 25/02/2011

Uma reflexão sobre a crise humana
O Livro "Crise: oportunidade de crescimento" de Leonardo Boff tem mensagem sobre esperança da realidade do ser humano, nas suas dimensões relacional, profissional e espiritual. A crise geralmente leva a um abismo de sentimento de angústia e até de autodestruição, se a pessoa não perceber a opotunidade para viver com limites e capacidade de ato-superação. O princípio essencial da crise é cósmico da cooperação, no sentido de complementar a troca de favorecer o princípio ganha-ganha, nas relações, onde não haja vencedores e perdedores. É hora de inventar na economia, política, cultura, ética e religião a superação do individualismo, acumulação, consumismo, que trazem situações de patologia do ser humano e centralizar numa nova racionalidade de solidariedade, familiariedade, hospitalidade, comensalidade entre todos os seres e natureza. O existencialismo vê a crise como uma problemática ojbetiva, inesgotável e inquestionável, por sua vez, o que articula a teoria do caos, quando ocorre a desordem no esforço cósmico do universo e da própria vida do ser humano. Muitas vezes, são as ideologias que provocam crises nos seres humanos, que se sentem presos nas suas angústias, culpas, sentimentos de inferioridade e complexidade da derrota. Assim, é necessário o ser humano recuperar principalmente sua liberdade de pensamento, de consciência, de informação, de forma democrática e até religiosa. Na questão religiosa, a espiritualidade é mais importante do que adesão a uma instituição religiosa. É através do processo da descontinuidade que a crise provocou, que se deve fazer a crítica a respeito da desagregação da ordem e construir uma nova ordem de transformação e capacitação de suportar as adversidades da vida. Crise em sânscrito significa desembaraçar, da palavra "kri" ou "kir", que também tem conotação de limpar e purificar. Em português, gerou a palavra crisol, elemento químíco. Pode-se dizer que então que crise significa processo de purificação do cerne histórico-acidental, ou seja, de o ser humano assumir seu papel principal psíquico, corporal, moral e religioso, a fim de libertar sua força interior de forma mais vigorosa e renovação de sentido. E todo esse processo de purificação implica ruptura, divisão e descontinuidade, que geralmente, dá sentido de aspectos dramáticos de processo doloroso, a fim de verificar novos critérios para superar a adversidade. E quando há esse "momento crítico", o ser humano deve tomar uma decisão de vitalidade criadora, de sair da "catástrofe iminente" e se reerguer para uma readequação, movida pela esperança do bem possível. Em crise religiosa, isso se chama conversão. Toda a vida de cada ser humana tem várias crise, tanto biossociopsicológica (adolescência, juventude, idade madura adulta, velhice), sóciocultural (dialética do desafio da resposta proposta por Toynbee e Ortega Y Gasset a respeito do rearranjo existencial quando convicções dos problemas da vida são colocados em xeque), espiritual e religiosa (sentido de decisão, juízo e ruptura no processo de conversão). A fé, compreendida como resposta que o ser humano dá com responsabilidade a uma proposta, deve ser decifrada na revelação do próprio Deus dentro da vida, assume forma livre por parte do ser humano dda relação ontológica de seu ser para a Realidade, fundamento de destinação - Deus. A fé sempre está em busca de sua expressão adequada de substituir o mistério pela expressão histórica e cultural, de não absolutizar ídolos e instituições humanas, mas de ultrapassar o mistério revelado e velado, do ser humano perceber o projeto infinito da existência. A fé quando vivida no ato existencial, ela se abre ao Mistério e não se apegar a formulações da Tradição, e sim compreende o sentido de julgar, criticar, discernir e distinguir Deus na vida. Da fé, se faz teologia que questiona tudo, inclusive Deus, que pode chegar ao ateísmo, quando o ser humano fecha o diálogo com o entusiasmo do ser humano. Confrontar essa necessidade para uma decisão radical, salvação equivale dar sentido à vida, como decisão que envolve tudo e que tudo exige. Sem tal significação, a crise não serve para nada e a teologia, inoperante. Sair das ilusões e ideias sobre o mundo, faz o ser humano compreender uma nova situação daquilo que se vivia antes e tomar decisões significativas para sair das ideologias alienantes dos escatologizadores, desvincular-se de status como dos arcaizantes, não ser estéril como os futuristas que só esperam, e não fugir do processo da crise dos escapistas. Sair da crise é ser responsável, que vê a crise como oportunidade nova vida, formular resposta com várias dimensões da vida, aprender com as experiências da vida, para novos valores e modelos de vida. "Todas as coisas grandes acontecem na crise, no turbilhão" - disse Heidegger - o que significa que a crise leva à reflexão, meditação para uma decisão purificadora e libertadora num ativismo consciente de transformar a própria em comunidade e em sociedade. A espiritualidade precisa de uma visão holística da totalidade da vida, convergindo todas as suas dimensões pela exterioridade corporal (em cuidar da própria saude com sentimento, inteligência e amor), interioridade mental (irromper a consciência com razão e ética), profundidade humana (espiritual, no sentido de aprofundar a capacidade além das aparências, vê e perceber algo não visível e perceptível, através de símbolos e metáforas da realidade, que vai além do mais profundo significado - uma inteligência que identifica os seres todos interligados a Realidade Suprema da aliança do amor). O princípio cosmogênio da força cósmica e espiritual, faz o ser humano despertar seu carisma (empatia) em realizar seu equilíbrio dinâmico de complexidiade, interioridade e comunhão, o qual faz da sua o caos generativo, igualmente ao universo em processo, como a sua crise de desordem para ordem, através da sua imaginação no seu cotidiano. Carisma vem de Krishna, que designa carma, crisma, caridade, Cristo, crística, ou seja, a energia cósmica que acrisola e vitaliza, penetra e rejuvenesce, que faz atrair e fascinar as pessoas. Neste sentido, todos são carismáticos, mas há alguns que explodem e implodem essa energia nas suas manifestações de vida, irradiando atração e capacidade de utilizar a inteligência de gerir, gestar, sua energia para os demais. Weber chamou carisma de "estado nascente" da pessoa que faz as pessoas despertarem da letargia do cotidiano. E para despertar tal carisma, precisa percorrer o caminho, como dizia Lao Tsé, no sentido de passar de um ponto a outro, numa comunhão, função de ligar, que leva a algum lugar. No sentido grego, caminho é o método, contato com a tradição dos âmbitos da experiência humana anterior que se acumula, com a qual se aprende, e procura andar como andou um Mestre de Vida. No cristianismo, o exemplo é Jesus. É através do caminho a Deus, que se faz a identificação cristã na personalização de cada ser humano na pessoa de Jesus Cristo. Cristo é mestre e projeto de conreção histórica, porque soube viver a utopia dentro da realidade, o qual realizou a tarefa de identificar seu próprio projeto com o que viveu, fez seu desejo infinito para concretização no tempo, cumpriu o desígnio de Deus a formar um novo ser humano, com novos valores. Cada ser humano faz o seu caminho, que reage, assimila seu modo, rejeita, assume e integra seu jeito de fazer a síntese do centro da sua individualidade irrepetível, sua personalidade, com aquilo que viveu e viu nas suas experiências. "Cada qual vê o mundo com o olho que possui e sintetiza a realidade a partir de onde seus pés pisam e sua vida alcança. Pois todos ponto de vista é sempre a vista de um ponto." Quem faz seu caminho, aprender a caminhar, faz-se caminho ao caminhar, onde um não vai fazer igual ao outro. "Caminhar significa auscultar e seguir os apelos que emergem do coração da própria vida." A vida em si tem vários apelos, que faz cada um auto-afirmar ou auto-entregar a própria vida a um ideal, a um projeto. Contudo, no caminho, depara-se com ilusões, erros, direção descentrada - que todos fazem procurando alcançar a plena felicidade. Quem reconhecer humildemente seus equívocos e limitações, vai desmascarar o descaminho e se redirecionar ao caminho do amor, da honestidade, da sinceridade, da abertura e acolhida no outro, para alcançar o verdadeiro caminho da felicidade. E para isso, tal caminho exige destemor e criatividade. Os projetos de vida têm cunho material e espiritual, que se realizam pela fé, viver segundo a consciência ética, no sentido fundamental de participação e aprendendo ser melhor. A vida religiosa na Igreja Católica é uma redefinição de estruturas dos votos de obediência (viver por não si próprio, mas em total comum-unidade), de castidade (dedicação total ao projeto de Deus de forma livre no amor com todos), e de pobreza (ruptura com a dependência dos bens materiais, saber partilhar os bens, principalmente com os mais pobres). Tais votos têm que ser decorrente na experiência de Deus no seguimento de Cristo, com a consagração (dedicação da vida) como reserva e missão, inserção total na comunidade e vida em fraternidade aberta, tendo o devido conhecimento da realidade, com o carisma específico e inserção pastoral adequada, e com a devida contribuição para o processo de libertação do ser humano do pecado social, a fim de promover a dignidade da vida humana para todos. Por isso, que um trabalho religioso deve ser redefinido co aprofundamento na espiritualidade da libertação. Na verdade, os três votos religiosos deviam ser um só, a consagração total da vida a Deus, com intuito de profesar, mas realizar-se pessoalmente em todos os aspectos afetivo, moral, intelectual, artístico, religioso, profissional, no sentido de desenvolver todos os seus talentos para Deus. Então, o caminho pessoal é o próprio caminhante, que constrói seu sentido de vida, no sentido de Deus ser o centro e sentido radical da vida, aberto ao ser divino. Quando se diz, manifesta, pensa "Deus existe" - tudo se modifica, porque se reconhece que existe um último sentido que acolhe todo ser humano, no seu buscar entre diabólico-simbólico, sentido-absurdo, o além de tudo, o mais íntimo do universo - uma forma de ver a vida e o mundo que se interpreta na vida concreta essencial. A realização pessoal consiste no modo de fazer bem aquilo que a vida situada assim remete. Ela não se preocupa com a quantidade de coisas, títulos, acúmulo de conhecimentos, mas na qualidade do que se conhece, sabe, experimenta e produz de forma imprenscindível para o próximo e para o bem no mundo. Espírito é o modo de ser do ser humano no mundo que sabe descobrir o sentido de cada coisa. A sabedoria de vida é saber viver, ser capaz de ser todo em tudo o que se faz - isso é o próprio Espírito. Espiritualidade é poder viver Deus em cada coisa, em cada situação da vida - modo de viver. É aceitar o limite da situação vital e perceber possibilidade que se contém, estar preparado e ver o sentido da morte como ressurreição (superação da vida terrestre para uma vida maior, transcendente). É saber se esvaziar, desapegar dos bens materiais e da matéria e aceitar a condição humana no convívio com Deus, despojar-se para se religar com Deus. Assim como dizia Buda: "O verdadeiro fim do caminho não chegar ao fim, é o caminhar". E na vida, é possível conciliar fé e política, nas suas implicações. A política social é a política com "P" maiúsculo e a política partidária é com "p" minúsculo. A política social é tudo que diz em relação ao bem comum da sociedade, participação ativa da cidadania, em lutar pelos direitos humanos fundamentais. A política partidária é para grupos que lutam e desejam conquistar o poder do Estado, nos governos municipal, estadual e federal, e seus respectivos legislativos. É na política partidária que o povo tem de verificar o programa do partido político, sua participação na sociedade e nos movimentos sociais, de verificar a biografia dos candidatos, e seus compromissos com as bases e causa da justiça social e de saberem suas ideologias. Contudo, tanto a polítia social como a partidária tem a ver sempre com o poder. Segundo Weber, há aqueles que vêem o poder como meio a serviço de outros fins, e há aqueleus vêem o poder para tender a si próprio como prestígio. Quem vê o poder a si próprio, geralmente faz parte da classe dominante, da elite. Quem vê o poder de prestar serviço ao povo, é aquele que procura fazer política com "P" maiúsculo. A vida religiosa tem que procurar a libertação, entre comunhão e participação da vida em comunidade, na Igreja e na sociedade, contextualizada pelos anseios da Igreja Latino-Americana e Brasileira, a qual utiliza o método da teologia da libertação para a crítica da realidade social e práticas de animação e construção de meios e mecanismos para uma transfomração social, libertando o povo da alienação e opressão que excluem e extirpam direitos essenciais e fundamentais do ser humano. A mística da libertação é contemplativa, mas ativa, na síntese oração-libertação, na paixão pelas causas dos pobres (justiça, direitos e dignidade). A espiritualidade da libertação tem características de oração materializada na ação, como expressão da comunidade liberta, liturgia como celebração da vida, oração libertadora heterocrítica de exame de práticas e atitudes dos participantes na comunidade, ou seja, corrigir-se e se criticarem uns aos outros sem melindres e suscetibilidades pessoais, com devido cuidado da solidariedade, sinceridade e lealdade, santidade política de superar ódios e exploração, coragem profética e paciência histórica, numa atitude pascal de não temer o martírio e ter a esperança da libertação na história. Todos precisam de nova experiência espiritual com novos valore que fundem novo paradigma da civilização planetária e válida para toda a família humana - travessia da busca da luz - purificação da crise (romper o casulo para a crisálida se transformar em borboleta - expressar irradiante a vida).
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