Nara 08/08/2021
Uma História Simples - Leila Guerriero
?? "Rodolfo começa a mover as pernas como um tigre enjaulado e enraivecido.Abre uma mochila, tira um livro(...)É a Bíblia e ele, sussura parece ao mesmo tempo, submisso e invencível e tremendamente frágil(...)num ângulo que diz, sem dizê-lo, 'estou em Tuas mãos' em atitude de reza.Então, olhando as costas desse homem de quem não sei nada,que lê as palavras de seu Deus pouco antes de sair para pôr a vida em jogo, sinto,com uma certeza fulminante e incômoda,que é a circunstância de maior intimidade que compartilhei com um ser humano."
Uma narrativa em estilo livro reportagem que me lembrou uma frase do Eduardo Coutinho:"Aquilo que existe pelo simples fato de existir, me interessa."
Aqui, o amor pelo malambo - uma dança folclórica com variações de Norte a Sul na Argentina - por parte dos aspirantes de diversas regiões do país e até de outros países latinoamericanos, é o que manifesta a curiosidade da jornalista Leila Guerriero.
Em especifico o Festival de Laborde, cujo reconhecimento como campeão, é o que alimenta o sonho de muitos jovens.É realizado numa cidade pequena,praticamente sem cobertura midiática.
A dança,um sapateado que dura de 4 a 5 minutos,acompanhado de uma guitarra c/mudanças crescentes e rítmicas que ditam o movimento das pernas.Um ano de rotina de exercícios,privações financeiras pra dar conta dos gastos com treinamento,vestimenta e as botas. Além do custo da viagem p/ Laborde. Meninos ao redor do país. A maioria, pobres.
Dentre eles, Rodolfo,um professor que vive de aulas de música. Foi pra Buenos Aires pra escapar da fome e pelo sonho de ser campeão em Laborde.Leila o acompanha durante 1 ano que se preparação pra ser campeão.
"Um homem comum,de pais comuns, lutando para ter uma vida melhor em circunstâncias de pobreza comum ou,não mais extraordinária do que a de muitas famílias pobres(...)Interessa-nos ler a história de gente como Rodolfo?Interessa-nos a pobreza quando não é a miséria extrema, quando não rima com violência, quando está isenta da brutalidade com que gostamos de identificá-la e de ler sobre ela?"
Sobre o quanto a cultura constrói a nossa identidade e guia (aquilo que existe pelo simples fato de existir) nossas paixões.