Marcos Pinto 18/03/2016SurpreendenteHá autores que gostam de trabalhar com o que o homem tem de melhor. Outros preferem ser mais verdadeiros, mais reais e desmascarar a sociedade. Raul Otuzi, em Tristes Finais para Começos Infelizes certamente está no segundo grupo. Através de uma prosa ágil e envolvente, consegue ganhar o leitor sem qualquer dificuldade.
Para trabalhar de maneira nua e crua os sentimentos humanos, o autor sempre parte de situações corriqueiras, levando seus protagonistas a viver o ápice de suas emoções. Mesmo que os textos soem, por diversas vezes, muito pessimistas, sabemos que todos eles retratam ocorrências bem possíveis e até de frequências constante.
No texto Dedo na Ferida, por exemplo, conto que faz a abertura do livro, o autor parte do ódio originado por uma traição. Aliás, não uma traição qualquer, mas a traição. Os sentimentos vão transbordando de palavra em palavra e nos sentimos solidarizados pelos dois principais personagens. Porém, quando menos se espera, o autor muda o rumo da narrativa e dá um final impactante. Aliás, finais surpreendentes é um artifício muito bem usado pelo autor durante todo o livro.
“– Esses sapatos estavam me matando. Não existe coisa pior do que sapato apertado. Existe?– Amar uma pessoa e não ser correspondido” (p. 36).
No conto Uma Noite Deliciosa para Comer Pudim é outro exemplo de texto com final surpreendente e impactante. Tudo começa quando uma mulher muito atraente chega ao lar do protagonista. Ela afirma conhecê-lo, mas ele não se lembra. Como ela é muito bonita, o protagonista resolve desenvolver o papo, já imaginando que iria ganhá-la. Contudo, o destino prega suas peças, e o personagem principal tem mais um dos muitos tristes finais do livro.
Nesse conto, em especial, o autor se supera. Com uma narrativa ágil e diálogos bem coloquiais que são extremamente próximos da realidade, o que dá uma sensação de verossimilhança enorme ao texto, Raul consegue trabalhar temas fortes. Aliás, essa é outra característica bem marcante do autor: o uso do humor para tocar em feridas profundas e que incomodam. Ao mesmo tempo em que brinca, ele critica a sociedade de aparências e futilidades que vivemos.
Além dos bons textos, escrita leve, mas bem trabalhada, e crítica apurada, o livro ganha muito em expressividade por causa das mais diversas ilustrações que possui. O fato dos textos ganharem ilustrações específicas não é aleatório; cada imagem enriquece ainda mais a experiência da leitura do texto a que se refere, ajudando na carga de sentimentos profanos e finais tristes que a obra carrega.
“Pronto. Que casamento resiste a duas confissões? Uma, vá lá. Mas duas? Feitas pela mesma pessoa e ao mesmo tempo? Problemas. Seríssimos problemas à vista” (p. 80).
Quanto à parte física, assim como em relação à obra, tenho apenas que elogiar. A capa está simples, mas tem o estilo que eu gosto: bem subjetiva. Como já tido, o livro contém diversas ilustrações; isso, aliado às letras em um bom tamanho e ótimo espaçamento, dá ao livro uma diagramação invejável. Ademais, a obra teve uma revisão muito boa, apesar de eu ter notado um errinho ou outro.
Assim sendo, com tantos aspectos positivos, resta-me apenas indicar a obra. Ademais, ainda afirmo: guarde o nome Raul Otuzi; tenho a sensação que ouviremos falar bastante dele. De minha parte, se ele mantiver esse estilo incrível, já tem um fã.
site:
http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/03/resenha-tristes-finais-para-comecos.html