Carlozandre 24/11/2014
A vida dividida por um muro
Freud dizia que às vezes um charuto é só um charuto. Os personagens centrais do romance O charuto apagado de Churchill (L&PM, 149 páginas, R$ 25), do alemão Thomas Brussig, discordariam. Para eles, um charuto foi a diferença entre a liberdade e vida na Cortina de Ferro.
O livro, primeiro do autor publicado no Brasil, conta a história do adolescente Mischa Kuppisch e de seu crescimento e formação em uma via de Berlim chamada Alameda do Sol. Com quatro quilômetros de extensão, a rua foi dividida depois da II Guerra de uma forma completamente esdrúxula: 60 metros ficaram no lado Oriental, depois separados do Ocidente pelo Muro de Berlim. O autor apresenta sua versão bem-humorada para esse fato real: na conferência de Potsdam, em 1945, enquanto Truman e Stalin discutiam sobre em qual lado deveria ficar a tal alameda, Churchill, que daria a palavra final, resolveu refletir com uma baforada em seu charuto – que havia apagado. Stalin oferece fogo ao primeiro-ministro britânico e, por sua gentileza, recebe menos de uma quadra da alameda.
Nascido na então Alemanha Oriental dividida pelo Muro, Brussig, 40 anos, tornou-se um best-seller ao publicar O charuto apagado de Churchill, seu terceiro romance, em 1998. A obra, com toques autobiográficos, vendeu 300 mil exemplares com uma narrativa pontuada de muitas referências à música, ao cinema e à cultura pop.