Sobre a Prática e a Contradição

Sobre a Prática e a Contradição Mao Tsé-Tung
Slavoj Žižek




Resenhas - Mao - Sobre a prática e a contradição


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Antonio Luiz 15/03/2010

Elogio das loucuras
“Ora (direis) ouvir Mao Tsé-tung! Certo, perdeste o senso”. Mas é o que Slavoj Zizek propõe em "Mao: sobre a prática e a contradição". Também convida a escutar o mais famoso dos cortadores de cabeças em "Robespierre: virtude e terror".

As duas obras aprofundam, com personagens ainda mais controvertidos, a reflexão iniciada com a reintrodução de Lênin por Zizek em "Às Portas da Revolução" (Boitempo, 2005). Trata-se, diz o esloveno, de fazer-lhes uma crítica implacável sem deixar de reivindicá-los para a esquerda e responsabilizar-se pelo passado que a constituiu. Nada de atribuir “maus” resultados ao traidor ou intruso que corrompeu a pureza do ensinamento original, pois este tem a necessidade inerente de ser “traído”, tirado do contexto original, lançado em um cenário estranho e assim se tornar universal. Só depois de reconhecer isso é possível diagnosticar o que, no plano abstrato, estava certo ou errado.

Mao precisou trair Lênin tanto quanto este traíra Marx. Só assim poderia fazer algo tão temível: politizar e por em movimento centenas de milhões de trabalhadores anônimos do “Terceiro Mundo”, o que para o Ocidente era a “estranheza radical” asiática, o alienígena “perigo amarelo” – e com tanto vigor que o movimento continua hoje, ainda que em direção imprevista, a explosão sem precedentes do dinamismo capitalista na China.

A principal traição com a qual Mao contribuiu para a filosofia marxista está, para Zizek, nas elaborações sobre a idéia da contradição. Para ele, a contradição principal – a luta entre proletariado e burguesia – não se sobrepunha à que deveria ser tratada como dominante no caso concreto – por exemplo, a luta contra o imperialismo japonês, que unia chineses de todas às classes. Também conforme a situação, o fator superestrutural, subjetivo de uma contradição era ou não mais importante que o material. Era preciso distinguir contradições “antagônicas” e “não antagônicas”. São pontos que, para Zizek, merecem consideração: insistir na centralidade da contradição principal no momento errado é, de fato, “oportunismo dogmático”.

Mao falhou miseravelmente, porém, em transpor a negatividade revolucionária em uma ordem nova e positiva. Segundo Zizek, a raiz do fracasso está em sua rejeição – ou incompreensão – da síntese dialética dos contrários, que não é simples conciliação, mas a superação dos termos da contradição, da própria forma política-ideológica dentro da qual se dava a luta. Para o líder chinês, o resultado da luta era a destruição de um lado, o que o aprisionava à noção simplista de uma luta infinita, do negar sem fim.

Não é mera firula filosófica. Dessa perspectiva “cósmica”, Mao desprezava os custos humanos de seus projetos. Nem o risco de destruição do planeta pela guerra nuclear lhe importava. Daí também a negação interminável e autodestrutiva da Revolução Cultural, reduzida, no final, a uma destruição impotente por incapacidade de gerar o novo e superar o passado. Ainda assim, o autor vê como positiva a ousadia de Mao e Robespierre e repete com este: “Cidadãos, queríeis uma revolução sem revolução?”

Não há revolução que respeite as regras sociais e normas preexistentes. Toda explosão democrática autêntica tem uma dimensão de “terror”, a imposição brutal de uma nova ordem. Zizek chega mesmo a propor a reinvenção do terror democrático como forma de enfrentar a ameaça da catástrofe ecológica: justiça igualitária estrita (impor as mesmas normas em todo o mundo para consumo de energia per capita, se culpar o Terceiro Mundo por arruinar o ambiente), terror (punição impiedosa dos violadores das medidas impostas, inclusive com limitações das “liberdades” e controle tecnológico dos infratores), voluntarismo (decisões coletivas contra a lógica “espontânea” do desenvolvimento capitalista) e confiança no povo (apostar que a maioria apóia essas medidas severas, as vê como próprias e está pronta a controlar seu cumprimento).
Marcos.Azeredo 21/04/2020minha estante
Eu gosto de Mao.




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