Camille.Pezzino 04/01/2023
RESENHA #227: MISTERIOSO INQUILINO
O tempo todo, nós somos julgados em e pela sociedade: a forma como nos comportamos; o jeito que nos expressamos; as sensações que passamos para as outras pessoas etc. Tudo que fazemos espelha aquilo que as pessoas enxergam em quem somos, montando nossas personalidades por conta própria e nos vendo da maneira que querem. Não é diferente em A morte de Mrs. McGinty.
O primeiro e grande ponto a ser destacado é que James Bentley, para o júri, era culpado. O seu jeito de agir, a forma que falava: tudo indicava a culpabilidade, ao menos, para aqueles que não compreendem a natureza humana. Assim, a primeira crítica que Christie traz é ao júri e ao conhecimento do público a respeito do ser humano: pessoas comuns podem mesmo julgar um criminoso? Como responsáveis pelo julgamento, eles podiam decidir – por ser parte do sistema punitivo britânico – se um homem, aquele homem, deveria ou não morrer na forca por um crime que pode ou não ter cometido. Dessa maneira, a escritora não só critica o júri, mas todo o sistema penitenciário dos ingleses.
Além de utilizar uma cantiga para dar título a sua obra, Christie retoma, embora seja um romance de Hercule Poirot – e não de Mrs. Marple –, a ideia de cidade pacata/vilarejo. Essa construção muito comum nos livros em que a detetive feminina dá as caras, aparece poucas vezes quando se trata de Poirot. No entanto, aqui, esse fato ganha múltiplas camadas: a primeira é o fato de o belga ser um homem desconhecido para a população local, afetando não só o caso, mas o ego do personagem. Com isso, podemos destacar que o fato de ele não ser conhecido pelos habitantes da localidade, que amam histórias de policiais, como bem se vê através da fama de Ariadne Oliver, é uma crítica quanto ao isolamento dos lugares pequenos e a pouca transmissão de informações jornalísticas.
Não obstante, há críticas bem fortes ao jornalismo sensacionalista, em que notícia e a busca pela verdade não são os pontos mais importantes das páginas informativas, e sim fazer com que o público se comova. Christie pontua, através desse jornal, a falta de responsabilidade dos veículos de comunicação com os fatos. Essa falta de responsabilidade é estendida à ficção e às próprias obras de Christie que, brilhantemente, utiliza Ariadne Oliver para criticar a sua própria produção literária.
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