Lucio 07/08/2019
A Vida Sempre Feliz do Sábio
INTRODUÇÃO (e referencial teórico do autor - dito aqui por conta da menção ao ecletismo)
Esse é um livro muito interessante em sua proposta. Cinco dias - correspondente a cada um dos livros internos - correspondem a cinco discussões sobre a felicidade - compreendida como o tema mais importante da discussão filosófica. A perspectiva é pretendida como eclética. Por isso mesmo, é uma excelente janela para a compreensão da filosofia antiga, chegando mencionar pelo menos uma dezena de filósofos importantes da época que não tiveram seus livros preservados. Há uma clara representação do estoicismo da época - do qual Cícero parece se aproximar mais -, bem como do epicurismo, peripatéticos e acadêmicos. Os grandes nomes são certamente mencionados. Platão, Aristóteles, Zenão, Epicuro, Crisipo, Metrodoro, Teofrasto. Estão todos aí, dando suas contribuições e sendo evocados conforme a conveniência.
RESUMO
Quanto ao conteúdo, Cícero discute no primeiro livro se é a morte é algo temível. Decide que ou ela não é temível por ser a extinção total ou é o bom destino dos bons. No segundo livro, disputa sobre a dor de uma forma geral, e, rejeitando veementemente o epicurismo, opta por considerar as dores desprezíveis. Ecleticamente, abraça a perspectiva de prever todas as coisas ao mesmo tempo que menospreza os bens humanos. Não devemos ceder a dor. É possível resisti-la e desprezá-la. O terceiro livro trata das perturbações da alma, em geral, notando que elas só existem por conta de uma consideração de um mal ou bem presentes e supervenientes. Em suma, o sábio, o homem feliz, não deve deixar sua alma ser perturbada, assumindo um certo desprezo apático por todas as coisas humanas, não se deixando, assim, ser levado pela suposição de um mal presente (dor), nem pelo medo, nem pela exultação ou desejo. Em suma, deve alcançar uma vida tranquila. Estabelece-se a ideia de que a alma perturbada é como que adoecida, e precisa ser curada pela filosofia. No quarto livro, expande-se a consideração sobre as perturbações, incluindo a exposição das perturbações pelos bens - desejo e exultação. Reforça-se, também, o que começara a ser trabalhado no livro III, a saber, que a vida feliz é aquela guiada pela razão, ao passo que a vida perturbada obstrui a razão. Por fim, o quinto livro trata da vida feliz como aquela que é virtuosa, e que a virtude pode nos fazer superar qualquer adversidade. Seja como for, reforça-se uma tese muitas vezes dita no decorrer dos livros que é o fato de que o sábio é sempre feliz - o que todo filósofo concorda.
No fim, o livro é quase que uma defesa de uma perspectiva estoica com algumas ressalvas. Defende-se basicamente que o sábio é o homem feliz, e que não teme a morte nem a fortuna, estando em condições de viver agradavelmente em qualquer situação por desprezar as coisas inferiores e, voltado e dominado pela razão, auxiliado pelas virtudes, estar sempre pronto a se deleitar nas coisas sublimes e manter a tranquilidade, coragem, paciência, magnanimidade e, em suma, gozar das próprias virtudes.
RECOMENDAÇÕES
Para começo de conversa, a tradução é terrível. Truncada, sem refinamento. Torna a leitura, não raro, maçante e mais difícil do que precisaria ser. Só isso já pode desestimular muitas pessoas. Todavia, impossível um pesquisador da felicidade, ou mesmo das doutrinas dos filósofos antigos, não ler esta obra. Foi referência para Agostinho e Calvino, o que, por si, já nos obriga a lê-la. Mas, reforça-se que não se trata de um livro que será apreciado por leigos. Não só por ser realmente filosófico, mas por conta da tradução exigir redobrada atenção.