gegeshow 22/03/2023
Nem todo calvo, mas sempre um calvo
Robison Crusoe foi um misto de sensações. A escrita é bem antiga, bem engessada, tem muitas descrições de cenários e processos e parece que não acontece muita coisa. E quando as viradas aparecem, passam muito rapidamente. Claro que existem inúmeros momentos onde a narrativa fica tensa e até meio assustadora.
Você já pôde se imaginar em ilhas desertas ao redor do mundo? Vivendo do que pode e como pode? Esse livro é um dos percursores da premissa de filmes como Náufrago e jogos de simulação que abordam sobrevivência. O que ele vive em todos aqueles anos é absolutamente surreal.
O mais estranho é que foi uma escolha pessoal. Ele quem quis. Muitas coisas foram acidentais mas o ponto de partida foi de livre e espontânea vontade. Sinceramente, eu acho e achei o livro inteiro tudo uma loucura. Deixar a minha casa? A minha vida? A minha família? A minha cultura? Pra viver de mar em mar igual uma maluca? Deus me livre.
Claro que na época e no contexto que o livro foi escrito isso parecia o suprassumo da aventura e da emoção. Acho que esse livro (como toda obra artística) é absurdamente atravessado pelo contexto. O contexto, porém não apaga as controvérsias.
E elas são muitas. Racismo, xenofobia, imperialismo cultural, intolerância religiosa. E assim por diante. Robison como pessoa é podre da cabeça aos pés e não demora muito pra que ele se estabeleça como essa espécie de "colonizador independente". Ele carrega em si todos os piores traços do processo violento de qualquer colonização, mas não está agindo em benefício de mais ninguém além dele mesmo. Por isso o independente.
Eu diria aqui "tirando isso a história....", mas acho que é um incômodo que não dá pra tirar de jeito nenhum. A cada parágrafo ele tá lá te perturbando sendo babaca e ridículo. Mas é uma leitura interessante, meio densa, que serve como ensaio sobre a mentalidade de um povo em um tempo.
Como eu li para dar de presente, marquei várias partes e fiz inúmeros comentários dos quais não me lembro mais. Foi extremamente divertido ficar xingando o personagem e me revoltando com as suas falas absurdas. A revolta é importante e é mais importante ainda que nesse contexto nós transformemos as atitudes em piada, pois Robison Crusoe é uma persona ridícula e possivelmente calva.
Já o livro, é uma experiência interessante.
beijinhos e boa leitura