Ricardo.Silvestre 06/09/2022
Entremos mais dentro na espessura
É o segundo livro que leio do autor, Afonso Cruz, e confirma-se o mesmo estilo narrativo em ambos. A linguagem é simples, rápida e poética, com personagens intensas que nos vão cativando à medida que as passamos a conhecer melhor.
É um livro sobre as pessoas, a vida, a morte, as perdas, o amor, a amizade e a importância das nossas lembranças. Quem passaremos a ser após a perda das nossas memórias? Os que nos conhecem saberão responder?
O livro tem inúmeras passagens que merecem destaque, de tão belas que são. Faço questão de realçar a que se segue:
?Tu achas que és uma pessoa, tens memórias, isso tudo. Mas, olha, os teus anos mais importantes, não te lembras deles. Lembras-te de quando tinha três anos? Não, pois não? De quando tinhas quatro? Também não. Dois? Um? Cinco? (?) Sabes quem se lembra desses anos e os guarda no peito como um coração mais importante do que o próprio coração? É a tua mãe. (?) As mães são as fiéis depositárias da nossa infância, dos primeiros anos. As tuas memórias mais importantes, mais formadoras, não são tuas, são dela. E quando tua mãe morrer, levará consigo a tua infância, perderás os primeiros anos da tua vida.?
E em jeito de conclusão, e como diria o Sr. Ulme, entremos mais dentro da espessura.
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