História, estratégia e desenvolvimento

História, estratégia e desenvolvimento José Luís Fiori




Resenhas - História, estratégia e desenvolvimento


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João Moreno 20/11/2019

Fiori, o destruidor de mitos
José Luis Fiori é um destruidor de mitos. Doutor em Ciência Política com pós doutorado em Economia, escreve sobre as origens do capitalismo a partir de uma perspectiva geopolítica. Entendendo que esta não se trata de ciência, mas do posicionamento estratégico e geográfico das diferentes nações num tabuleiro global, o poder, a expansão e o belicismo serão características fundamentais desse "sistema interestatal capitalista".

E é assim que Fiori (2014) começa. Diz que o capitalismo é indissociável ao Estado (Alô, Ideias Radicais?!). A expansão, a dívida pública, a moeda fiduciária e a necessidade de defender territórios renovando tecnologias e sistemas burocráticos são fatores fundamentais ao surgimento capitalista, mais do que aquele mito liberal da livre iniciativa individual como motor do mundo (notem que a noção de indivíduo moderno e ultraindividualismo é recente, a partir da década de 1960). Mais do que o indivíduo, a guerra e a expansão, conquista e dominação definem o que somos.

Passado esse primeiro momento, Fiori (2014) fala em poder, expansão e vácuo, o qual será eventualmente ocupado pelas forças dominantes. A construção do "livre-mercado" seria anacrônica, pois as guerras e o belicismo são condição sine qua non ao capitalismo. Assim, o autor falará sobre a busca pela hegemonia: do Império Britânico aos Estados Unidos e, por último, a China, tais países têm a capacidade de direcionar os rumos das outras nações de acordo com os seus interesses estratégicos.

O livro é dividido em artigos em três grandes grupos. Na primeira parte, além de um ensaio sobre o desenvolvimento do Capitalismo nesse "sistema interestatal", há outro trabalho mais extenso sobre o poder e a conquista numa perspectiva geopolítica. Após, Fiori (2014) apresenta os diferentes modelos de desenvolvimento capitalista das diferentes nações.

É nessa hora que o mito liberal do "mundo construído a partir do livre-mercado" cai por terra. "Estados Unidos?", você diz, sem se lembrar que os Estados Unidos, hoje, é a maior potência americana desde o final da Segunda Guerra Mundial. Seu desenvolvimento, ao contrário do que diz o seu YouTuber preferido, não se dá a partir de indivíduos atomizados, os quais, a partir de sua atividade empreendedora, conseguiram construir o maior império já visto. Não. Os Estados Unidos foi um protetorado britânicos até a Revolução Americana. 2/3 da infraestrutura americana são investimentos advindos do país inglês. Sem falar da escravidão e do novo papel que assume após a destruição europeia pós Primeira Guerra Mundial. Não esqueçamos da atuação geopolítica de domínio e controle da América do Sul; as 53 invasões ao fim da Guerra Fria, recente. Etc etc etc.

"Canadá", você diz, mas, assim como os EUA, o Canadá foi um protetorado britânico, recebendo investimentos tanto de ingleses como de americanos, após a Segunda Guerra Mundial. Combina exportação de produtos estratégicos com um avançado parque industrial e tecnológico, que existe graças à posição de "vassalo" e subordinado dos EUA.

"Austrália", você diz. Mesmo caso anterior. Protetorado britânico o qual financiou a sua industrialização.

"Nova Zelândia", idem. Vale ressaltar os diferentes conflitos que estes países citados se envolveram, como a Guerra dos Boêres e Guerra da Coreia.

"Coreia do Sul", você fala, citando o senso comum do YouTube, sem saber que a Coréia do Sul, destruída pela Guerra da Coréia, passa a ser um player importante no contexto da Guerra Fria, para os EUA, pois se posiciona contrária à Coréia do Norte e ao Vietnã. Além do mais, o seu desenvolvimento se explica por um anti-imperialismo e união entre os diferentes setores da sociedade rumo a objetivos específicos.

Fiori (2014) fala muito mais coisa sobre diferentes países. Como destruidor de mitos, é ultra recomendado ao amigo liberal, que acredita no "livre-mercado", assiste ao "Ideias Radicais",
acredita no velho Partido NOVO e vota no Amoêdo. Dizem que para desenvolvermos, basta termos menos Estado enquanto a China investe 30 de seu PIB a pretextos de defesa de suas fronteiras e os EUA têm quatro bases na América do Sul para defender seus interesses estratégicos ((...) nesse momento, todos os governos da América do Sul representariam uma ameaça aos interesses norte-americanos que deve se contida e derrotada (...)") [2014]

"Ingenuidade à parte, os liberais nunca tiveram uma teoria original a respeito da América Latina, nem precisam dela. A repetição recorrente de algumas platitudes cosmopolitas foi mais do que suficiente para sustentar sua visão da economia mundial e legitimar sua ação política e econômica idêntica em todos os países. No caso dos intelectuais progressistas do continente, porém, é uma má notícia saber que não existe mais uma teoria capaz de ler e interpretar a história do continente e fundamentar uma estratégia coerente do futuro, respeitada a imensa heterogeneidade do continente latino-americano" (FIORI, 2014, p. 216).
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