O braço direito

O braço direito Otto Lara Resende




Resenhas - O braço direito


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Ana Seerig 17/07/2021

A infância entre a religião e a política
Um diário sem data, ou talvez um simples caderno para desabafos, o livro traz as observações do zelador do Asilo da Misericórdia, uma instituição que abriga crianças pobres e, em teoria, é um dos projetos sociais comandados pela paróquia da pequena cidade.

O personagem é aquele cristão fervoroso que usa nomes santos a cada cinco minutos, enquanto resmunga com seus botões quão injusto é o fato das pessoas não reconhecerem que indivíduo exemplar ele é. Ou seja, um egocêntrico preguiçoso - e põe preguiçoso nisso: saiu de casa aos 30 anos para fugir da pressão da mãe, que queria que ele casasse com a vizinha. A fuga de casa o obrigou a arrumar um emprego: vendedor de botões. Na primeira parada, encontra o padre que pede que ele seja "seu braço direito" cuidando das crianças (ou seja, casa e comida inclusas - como resistir?).

O livro foi publicado muitos anos depois de "Boca do inferno", livro de contos do Otto que registram o lado não tão bonito da infância e que lança sombra em "O braço direito" (inclusive a história de um dos contos é mencionado como uma história que teria acontecido). Em ambos os livros as crianças estão longe do mundo de sonhos e do "felizes para sempre". A violência aqui está presente também, mas de forma mais amena, já que o narrador os vê como "lapsos" ou "corretivos necessários".

Otto me surpreendeu ao apresentar um personagem tão chato, mas especialmente por colocar como pano de fundo (ou cenário principal?) algo presente ainda hoje: o uso da religião para fins políticos, usando discursos bonitos para atrair dinheiro, enquanto quem precisa passa fome. No fim, é um livro quase tão pesado quanto "Boca do inferno", mas apesar disso (ou talvez por isso), eu continuo amando o Otto - é um tapa na cara tão grande que chega a doer na alma.

site: https://www.instagram.com/p/CRcuxF3DyBd/?utm_medium=copy_link
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Henrique Fendrich 01/10/2019

História interessante, em forma de diário, a partir da perspectiva de um personagem apagado. Reflexões interessantes em meio a um clima melancólico.
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