Rafael 16/02/2017
A guerra: um mal necessário
O livro faz um primoroso e extenso estudo sobre a guerra. Discorre sobre o seu desenvolvimento e a sua evolução no decorrer do tempo: desde a pré-história ao século XX, e as suas consequentes implicações na sociedade. A abordagem por ser minuciosa – transcende o recorte ocidental dos conflitos, dando um painel comparativo muito rico à pesquisa. O autor Ian Morris, além de historiador é também arqueólogo – trazendo assim – um olhar além de documentos primários, e, constata a barbárie advinda das guerras unida à uma questão parodoxal – da mesma ter deixado um legado à humanidade.
A História da humanidade é permeada de conflitos. Desde os tempos remotos da pré-história até o presente momento, esse é um dado inato ao convívio social do indivíduo. Ele está em busca de um território para morar, de estabelecer algum meio de produção, de cultivar relações afetivas e, de ter, minimamente, um pouco de paz e harmonia social no local em que vive. E a busca por esses elementos essenciais para o seu desenvolvimento, ou mesmo sobrevivência pessoal, requer algum meio de resolução de conflitos. E o meio pelo qual a humanidade a encontrou, foi através da guerra. Sendo uma solução horrorosa, como sugere o subtítulo do livro; entretanto, foi a única maneira pela qual chegamos até aqui.
A base para a sociedade guerrear parte do seu núcleo principal: o indivíduo. Assim, o comportamento de vários indivíduos que compõem pequenos agrupamentos ou mesmo uma grande sociedade que precisam ser analisados. De modo que o debate clássico entre Rousseau e Hobbes ganha formato no livro. E surge a indagação? O homem é bom ou mal por natureza; existe a bondade natural pregada por Rousseau? O livro responde que não, e acredita mais na tese de Hobbes, do grande Leviatã cercado de instituições, leis e costumes para podar a besta que há em nós.
No decorrer dos relatos das guerras, o autor constata que o modo de guerrear não é apenas ocidental, mesmo que o ocidente tenha aprimorado estratégias e instituições para tanto. E vai muito além: traçando uma análise qualitativa dos principais conflitos da humanidade do ocidente ao oriente. A pesquisa dialoga com uma proposta à longo prazo; de benefício para a humanidade no que tange às guerras, porém houve as producentes e as contraproducentes. Assim, algumas causaram em meio à violência um maior desenvolvimento pós-guerra, e outras não fomentaram adequadamente o desenvolvimento das regiões.
Afinal, como compreender uma questão tão paradoxal dos benefícios advindo das guerras, em contraste com a monstruosidade de milhões de mortes e a devastação praticada pelas mesmas?
A resposta é que, basicamente, em seu conjunto elas foram mais producentes. O próprio conflito de guerra estimula o desenvolvimento das regiões, como foi o caso da História Antiga, da produção da arma de bronze, e, assim, o posterior aperfeiçoamento de técnicas e a produção de armas mais robustas. Na História Moderna tivemos o desenvolvimento de navios com canhões, que através de conflitos, descobriram vastas latitudes antes desconhecidas. A guerra vai muito além - ela gerou como um todo, sociedades mais desenvolvidas, seguras e mais ricas, além de hoje ela não chega a matar nem 2% da população mundial, um índice muito menor comparado à época da pré-história que chegava a 20%. É difícil de acreditar, mas a guerra por mais horrorosa que ela seja – ela gerou benefícios para a sociedade, e infelizmente foi um meio pelo qual a humanidade encontrou para resolver conflitos.