Pedro.Gondim 18/01/2021
Salomão, Salomão
"A ansiosa expectativa da pequena multidão desafogou-se num grito, o elefante tinha acabado de fazer subir com a ajuda da tromba, para cima de si, um homem levando o seu saco de pertences. Era Subhro ou Fritz, consoante se preferir, o cuidador, o tratador, o cornaca, aquele que tão humilhado havia sido pelo arquiduque e que agora, à vista do povo de Gênova reunido no cais, irá desfrutar de um triunfo quase perfeito. Escarranchado na nuca do elefante, com o saco entre as pernas, vestido agora com a sua suja indumentária de trabalho, observava com soberba de vencedor a gente que olhava de queixo caído, sinal absoluto de pasmo segundo se diz, mas que, em verdade, talvez por absoluto ser, nunca pôde ser observado na vida real. Quando montava o Salomão, a Subhro sempre lhe havia parecido que o mundo era pequeno, mas hoje, no cais do porto de Gênova, alvo dos olhares de centenas de pessoas literalmente embevecidos pelo espetáculo que estava sendo oferecido, quer com a sua própria pessoa quer com um animal em todos os aspectos tão desmedido que obedecia às suas ordens, Fritz contemplava com uma espécie de desdém a multidão, e, num insólito instante de lucidez e relativização, pensou que, bem vistas as coisas, um arquiduque, um rei, um Imperador não são mais do que cornacas montados num elefante". (p. 177)