Guynaciria 23/09/2018A partir de uma gravura, vista por Saramago, ele criou essa maravilhosa história, que narra a trajetória de um elefante que passou pelas mãos de alguns homens ilustres, que o fizeram atravessar grande parte da Europa.
Salomão é um elefante, inicialmente os reis de Portugal ( Dom João III e Catarina d Áustria) detêm a sua posse. Mas a inconveniência de ter tal animal cria uma série de desentendimentos entre o casal, que resolve se desfazer dele, dando o mesmo como um verdadeiro presente de grego para o arquiduque austríaco Maximiliano II, que prontamente o aceita de bom grado.
O estranho é que ao se ver livre do animal, o casal logo sentiu a perda do mesmo, mostrando como nós serem humanos somos contraditórios em nossos afetos.
Saramago também aproveita a narrativa para criar um alivio cômico, que muitas vezes se dá através de ferrenhas alfinetadas na religião e na forma como suposto milagres eram forjados para criar uma áurea de santidade em uma religião decadente que vinha perdendo terreno desde a reforma protestante.
Embora o protagonista do livro seja o elefante, o livro trata na verdade do ego das pessoas que o cercam, e de como essas estão dispostas a fazer quase tudo em prol da manutenção de uma aparência frágil de superioridade e grandeza, mas que na realidade não passa de mesquinhez e insegurança extrema.
O livro não tem grandes reviravoltas, e pode até mesmo ser visto como enfadonhos por alguns que não se atem ao lado psicológico da trama. Mas para quem venha a lê-lo com atenção, vai se maravilhar com essa obra.