spoiler visualizarMarcio 07/12/2012
Trechos prediletos: “RESPEITO – A FORMAÇÃO DO CARÁTER EM UM MUNDO DESIGUAL”
Em 07/12/2012
Título original: “RESPECT”
Autor: Richard Sennett
Ano: 2003
Edição brasileira:
Título: “RESPEITO – A FORMAÇÃO DO CARÁTER EM UM MUNDO DESIGUAL”
Tradução para o português: Ryta Vinagre
Editora: Record / 2004
“... o crescente bem do mundo depende parcialmente de atos não-históricos; e se as coisas não são tão ruins para você e para mim quanto poderiam ter sido, deve-se em parte aos tantos que viveram fielmente uma vida oculta e hoje descansam em túmulos não visitados.” – George Eliot, Middlemarch.
É certo que a sociedade tem uma ideia dominante: de que, ao nos tratarmos como iguais, afirmamos o respeito mútuo. Mas será que podemos respeitar as pessoas que são tão fortes quanto nós? Algumas desigualdades são arbitrárias, mas outras são intratáveis – como as diferenças de talento. Na sociedade moderna, em geral as pessoas não conseguem levar a consideração e o respeito mútuo através dessas fronteiras.
A difícil discussão da igualdade é sentida pelas pessoas no sistema de previdência social quando elas acham que suas queixas com relação à atenção dos outros, referem-se unicamente a seus problemas, à realidade de suas necessidades. Para ganhar respeito, elas não devem ser fracas; não devem ser necessitadas.
Quando os beneficiários da previdência são instados a “ganhar” respeito próprio, em geral isto significa tornarem-se materialmente autossuficientes. Mas, na sociedade, o respeito próprio não depende só da situação econômica, mas do que fazemos, de como o conseguimos. O respeito próprio não pode ser “ganho” da mesma forma que as pessoas ganham dinheiro. E, novamente, intromete-se a desigualdade; quem está na base da ordem social pode conseguir respeito próprio, mas sua posse é frágil.
Escassez de respeito.
A falta de respeito, embora seja menos agressiva que o insulto direto, pode assumir uma forma igualmente ofensiva. Nenhum insulto é feito ao outro, mas ele tampouco recebe reconhecimento; ele não é visto – como um ser humano pleno, cuja presença tem importância.
Quando uma sociedade trata a grande maioria das pessoas desta forma, julgando apenas alguns poucos dignos de reconhecimento, é criada uma escassez de respeito, esta é produzida pelo homem; ao contrário da comida, o respeito nada custa. Por que, então, haveria uma crise de oferta?
A vergonha da dependência.
Imagine um namorado que declara, “Não se preocupe comigo, posso cuidar de mim mesmo, eu nunca serei um fardo para você”. Devemos mostrar a porta da saída a esse namorado; esta criatura independente jamais levará nossas necessidades a sério. Na vida privada, a dependência une as pessoas. Uma criança que não dependesse da orientação dos adultos, seria um ser humano profundamente prejudicado, incapaz de aprender, profundamente inseguro. Como adultos, se evitássemos as pessoas mais doentes, mais velhas, mais fracas que nós e que precisam de ajuda, teríamos, na melhor das hipóteses, um círculo de conhecidos, e não de amigos.
Na espera pública, contudo, a dependência parece vergonhosa, em especial para reformadores do sistema de previdência social moderno. Recentemente, na conferência do Partido Trabalhista, o primeiro ministro britânico declarou que “o novo welfare state deve estimular o trabalho, e não a dependência”, apelando para a “compaixão com os que passam por momentos críticos”. O momento crítico humano, que evita a necessidade e enfatiza a autossuficiência trás respeito aos olhos dos outros e gera respeito próprio.