Manu 14/07/2021
Luto: A jornada pela dor de Lisey.
Confesso que escrever a resenha desse livro é um grande desafio para mim. Love: A história de Lisey foi, com certeza, o livro mais denso que li esse ano. A que exigiu mais da minha concentração.
Lisey Landon está viúva há dois anos. Scott, seu esposo, faleceu em 2004. Em 2006, Lisey ainda não superou a sua morte, ainda não enfrentou o luto da perda do marido. É então que Lisey embarca numa jornada íntima em busca de encarar tudo o que sente a respeito Scott, e percebendo que os mesmos possuía mistérios que só através de uma intensa investigação Lisey conseguirá conhecê-lo por completo, mesmo com ele morto.
Lisey é uma mistura de drama, mistério e horror psicológico. É difícil categorizá-lo em algum desses três gêneros especificamente. Porém, independente disso, temos um King maestro em conduzir o leitor ao longo de suas quase 600 páginas (em minha versão). Mesmo que você não curta a viagem, não se pode negar que o autor tem total controle da história que quer contar - que, inclusive - assim como outras histórias - possui um cunho muito autobiográfico.
Pode-se dizer que o autor passa do prolixo em alguns momentos. Tem momentos morosos, quebra de ritmo que exigirá e muito da atenção do leitor. É um livro com muito flashback. Já deixo de antemão: 80% da história, em seu presente, se passa em alguns dias. Mas, com muita volta no tempo, muita investigação onírica de sua personagem principal, tem momentos que a leitura fritará sua mente. Vá logo preparado.
É Lisey contando do seu passado com Scott ouvindo Scott contar a história do passado dele. São sonhos que Lisey tem que não sabe se é real ou não. São detalhes de lembrança que a mesma busca prestar mais atenção. São momentos que passam da terceira para a primeira pessoa num meio de um capítulo. Sim, a leitura é densa demais.
Apesar disso, a experiência com o livro vale muito a pena. Não digo que seja um bom livro introdutório ao autor, mas acredito que quem já o conhece, perceberá que esse tem um tom diferente de outros. E sim, King também não deixa de lado o sobrenatural. São nesses momentos que o horror psicológico entra na história. Eu ficava perplexo com esses momentos.
Eu acho que também é um daqueles livros que requer mais paciência ao lê-lo. Recomendo a você que procura ler essa história não fazer longas maratonas literárias dele, e também procurar momentos de maior silêncio e paz interior para absorver melhor a história.
E sim, apesar de ser um livro super escrito, a subjetividade do leitor é o que também conta ao fim dele. Para mim, o livro foi mais marcante por King me conduzir a uma história que nunca tinha enfrentado antes, do que pela história contada em si. Mas sim, não deixa de ser boa, mas não é aquela coisa que considero como memorável. Para ser justo, minha nota para esse livro seria acima de 3.5 mas abaixo de 4.0. Um 3.75.
Ao fim, em seu posfácio, King escreve algo que me faz refletir aquela história como metáfora, como reflexão. É algo que gosto do autor. Horror serve para refletir. Por sinal, esse é o livro escrito favorito dele. "Existe mesmo um lago em que nós — e neste caso o nós significa o imenso conjunto de leitores e escritores — vamos beber e jogar nossas redes." (Stephen King, em seu posfácio).
Para finalizar, deixo mais uma frase, dessa vez de Alvo Dumbledore, de Harry Potter. É a que lembrei ao fim de minha leitura de Love:
"Não vale a pena viver sonhando e se esquecer de viver".