Lina DC 11/04/2016A trama é dividida em prefácio e mais três partes, todas narradas em primeira pessoa sob a perspectiva do extraterrestre. No prefácio vemos que o livro foi escrito pelo protagonista com o intuito de apresentar os seres humanos aos demais seres intergaláticos.
Andrew Martin é um matemático de 43 anos, cujo objetivo de sua vida foi conseguir comprovar a hipótese de Riemann. O problema é que os seres humanos não estão preparados para as consequências dessa resposta, então Martin é abduzido antes de divulgá-la.
"Os humanos são uma espécie arrogante, definida pela violência e pela ganância. Eles pegaram seu próprio planeta, o único a que atualmente têm acesso, e o colocaram no caminho da destruição. Criaram um mundo de divisões e categorias e têm deixado continuamente de ver as semelhanças entre si mesmos." (p. 59)
A missão do extraterrestre (ele não tem um nome) é descobrir se Martin contou a alguém sobre as suas descobertas e eliminar qualquer evidência existente.
Logo após a abdução um novo ser está em seu corpo e vários momentos complicados se seguem. Ele é atropelado, preso por atentado ao pudor e colocado em um manicômio por um colapso nervoso.
"Os humanos, como regra geral, não gostam de pessoas loucas, a menos que sejam boas em pintura e, ainda assim, depois que já morreram. Mas a definição de louco na Terra parece ser muito obscura e inconsistente. O que era absolutamente são em um período torna-se insano em outro." (p. 45)
São tantas sensações novas que "Martin" sente-se sobrecarregado, mas acaba contando com a ajuda de sua esposa Isobel nessa adaptação.
"- Mas o que você ganha com isso?
Ela riu.
- Essa pergunta tem sido uma constante em todo o nosso casamento.
- Por quê? - pergunte. - O nosso casamento tem sido ruim?
Ela inspirou fundo, como se essa pergunta fosse algo que a levasse a mergulhar e passar por baixo." (p. 66)
Enquanto tenta compreender as nuances da humanidade, Martin observa a dinâmica do casamento com Isobel, seu relacionamento com Gulliver, seu filho adolescente, e Newton, o cão da família.
"- Ah, tenha dó, foi sempre a mesma coisa. Dos 2 aos 4 anos de idade, Gulliver nunca o viu em casa um dia sequer na hora do banho ou para te contar uma história na hora de dormir. Você ficava fora de si diante de qualquer coisa que interferisse com você e sua carreira." (p. 199)
De uma forma leve e divertida, Matt Haig explora os aspectos da convivência, do casamento, da amizade e discute abertamente sobre a família e o amor.
A dinâmica entre "Martin" e Isobel é delicada e ao mesmo tempo complexa. Isobel aceita de bom grado as mudanças de "Martin" pois ainda tem esperança de o homem que sempre amou ainda existem. Anos de um casamento desgastado, um companheiro extremamente egoísta e narcisista e um filho que vive sob a sombra do sucesso dos pais é uma pequena parte do cenário retratado em "Os Humanos".
"E eu me sentia incrivelmente emocionado por poder testemunhar o amor ressurgindo de dentro dela, porque era um amor total no auge da vida. Do tipo que só era possível em alguém que morreria em algum momento do futuro e que também tinha vivido o suficiente para saber que amar e ser amada era uma coisa difícil de alcançar, mas os se lidar com ela é impossível ver o infinito." (p. 225)
"Os Humanos" é um testemunho das perfeitas imperfeições que carregamos. É uma narrativa forte e vibrante de como somos capazes de errar, mas também da nossa capacidade infinita de amar.
Em relação à revisão, diagramação e layout a editora realizou um ótimo trabalho. A parte interna tem divisões das partes, frases em destaque e uma capa linda.
"E foi então que tomei consciência do porquê do amor.
O amor servia para ajudar a sobreviver." (p. 239)