Sô 22/01/2020Gostamos de acreditar que pessoas bem-sucedidas contaram somente com sorte ou um talento nato e pronto, as coisas simplesmente aconteceram. Como se o sucesso tivesse surgido como mágica na vida delas. Claro que não é bem assim, e neste livro o autor vai destrinchar casos famosos de sucesso e nos mostrar que talento é necessário sim, um pouco de sorte sempre vai bem, mas principalmente, o que torna uma pessoa “fora de série” é uma sequência favorável de eventos, na qual a oportunidade somada ao aperfeiçoamento fará toda a diferença.
Ter nascido numa época propícia para determinado segmento pode ser fundamental para o sucesso. Bill Gates não seria quem é se não tivesse nascido no período em que nasceu, porque isso determinou mais para frente a sua entrada num mercado que estava em expansão. Soma-se isso o fato de ele se interessar por computador logo cedo, numa época em que isso não era acessível, e possuir pais ricos que podiam bancar esse hobby. Tudo isso está conectado e é um ótimo exemplo de uso das oportunidades que foram surgindo em sua vida. Caso tivesse nascido antes ou depois, poderia ter perdido o boom da informática que surgiria mais adiante. Caso não tivesse pais ricos, talvez não tivesse acesso a computadores tão cedo. Caso não tivesse esse acesso, não teria aperfeiçoado seus conhecimentos. O fator sorte estava presente também, claro, mas mais que isso, foi uma série de oportunidades que acabou determinando o seu sucesso.
Um capítulo muito interessante também é sobre os gênios com QI altíssimos. Quando pensamos neles, automaticamente pensamos em sucesso, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ter inteligência analítica não é o mesmo que inteligência prática, e nessa hora conta muito a cultura em que você está inserido e seu ambiente familiar. Crianças que são expostas a diversas situações, acabam tendo mais conhecimento de mundo, assim como as que são incentivadas a lidar com a autoridade. Futuramente, crianças assim se sentirão menos intimidadas com as situações adversas que surgirão pelo caminho.
Se eu tivesse que pedir para alguém ler somente um capítulo deste livro, seria sobre o do Índice de Distância de Poder, na qual o autor usará exemplos de desastres aéreos ocorridos por um motivo que a princípio não faz sentido: a hierarquia dentro da cabine de comando. Ao acompanharmos a transcrição da caixa preta, nos deparamos com um comportamento bizarro dos copilotos, claramente intimidados perante a presença do piloto, ou seja, da autoridade. É algo tão grave, que nem mesmo em situações assim, de emergência, a pessoa consegue se impor, e isso pode ser explicado pelo IDP. Quanto maior a distância, maior será a dificuldade da pessoa em lidar com autoridade e maior será seu complexo de inferioridade. Achei fascinante e me vi concordando em diversas partes, já que parte da minha cultura é a japonesa, em que essa questão da hierarquia é bastante enraizada.
Por outro lado, quando ele entra no capítulo sobre os motivos por trás do alto índice de violência no sul dos EUA, devo dizer que achei um pouquinho forçado. Outro ponto que não concordo muito é quando ele fala que não importa muito a faculdade que você ingressar, que Harvard, por exemplo, é tão boa quanto qualquer outra. Se o sucesso está atrelado a oportunidades, na minha visão, Harvard pode oferecer mais oportunidades – e melhores! – do que as com menos prestígio. Mas ao mesmo tempo, entendo o que ele quer dizer com isso, afinal, ter feito Harvard não é garantia de sucesso se os outros pontos não estiverem alinhados.
Leitura interessantíssima! Assim como ocorreu com os advogados judeus, espero que haja alguma oportunidade futuramente envolvendo mulheres descendentes de imigrantes japoneses, nascidas no Brasil na década de 1980. A essa altura, somente aproveitando alguma situação adversa para me salvar!