spoiler visualizarMatheus.Correa 24/03/2024
O amor que há na gratidão
"? Cometi um erro idêntico ? disse Madame Rosa. ? A identidade, o senhor sabe, pode se enganar também, não é a toda prova. Um menino de três anos não tem muita identidade, mesmo quando circuncidado. Eu me enganei de circuncidado, criei seu pequeno Mohammed como um bom judeuzinho, pode ficar tranquilo. E quando alguém larga o filho onze anos sem vê-lo, não deve se espantar se ele se tornou judeu? ? Mas eu estava na impossibilidade clínica! ? gemeu o sr. Kadir Youssef. ? Bom, ele era árabe, agora é um pouco judeu, mas continua sendo seu rebento! ? disse Madame Rosa com um sorriso amistoso. O sujeito se levantou. Teve a força da indignação e se levantou. ? Quero meu filho árabe! ? berrou. ? Não quero filho judeu!" - Árabes e judeus, cada qual com a sua luta, mas emulando preconceito e dor. O livro é sobre Madame Rosa, uma senhora que passa por uma situação de descaso e com doenças. Vive olhando para si e para fora e com questionamentos sobre o que fazer e vemos Momo, menino que é cuidado pela mesma, que fora abandonado pelos pais e que sofre quanto a isso e que vê em dona Rosa uma mãe, uma mulher que ele jamais irá abandonar, porque ela não o abandonou quando o adorno de seu pai o rejeitou e sua mãe, só Deus sabe onde ela está.
O livro é forte e elabora um contexto que nos faz pensar sobre a situação do garoto, que nos escreve em primeira pessoa, relatando seus pensamentos e sentimentos ante a tudo que o vereda. E dói. Dói porque a rejeição é dolorosa e esse livro estabelece um diálogo franco acerca da rejeição e sociedade. Porque há escolhas tão francas com o fim de segregar quem é diferente.
O livro é poderoso e recomendo ele como uma porta para a reflexão de um texto que bate forte no estômago, do jeitinho que deve ser.
"Corri para beijá-la. Ela não cheirava bem porque tinha cagado e mijado embaixo dela por razões de estado. Beijei-a mais ainda porque não queria que ela imaginasse que me dava nojo. ? Momo? Momo? ? Sim, Madame Rosa, sou eu, pode contar com isso. ? Momo? Eu ouvi? Eles chamaram uma ambulância? Eles estão vindo? ? Não é para a senhora, Madame Rosa, é para o sr. Bouaffa, que já está morto. ? Estou com medo? ? Eu sei, Madame Rosa, isso prova que está vivinha. ? A ambulância? Ela tinha dificuldade para falar porque as palavras precisam de músculos para sair e nela os músculos estavam todos danificados. ? Não é para a senhora. A senhora, eles nem sabem que a senhora está aqui, juro pelo Profeta. Khaïrem ." - Ela tinha medo de ser pega por ser judia, e Momo faz uma promessa mencionando um profeta relacionado ao seu povo, àquilo que jamais se afastou de si e isso mostra o quanto o texto é riquíssimo em empatia, o menino que até então acreditava que tinha 10 anos, agora tem 14, e saber sobre isso o transforma em um homem que quer cuidar de quem lhe estendeu a mão, e a sensibilidade do toque do garoto a anciã que cuidara com tanto carinho de si, é impactando. Um texto que possui um contexto de sobra!