desencaixados 17/07/2017
Um suspense surpreendente
Após ser acusado de um grave assassinato, James Marconi passa os seus dias trancado dentro de um manicômio vivendo a base de comprimidos e torturas. Sendo obrigado a conviver com pessoas totalmente alucinadas e “loucas”, o pobre criminoso nunca consegue se controlar ao ser mencionado tudo que envolve o seu passado, principalmente quando se trata da sua filha.
Levando uma vida totalmente solitária e sofrida, James consegue confiar somente em uma enfermeira dentro da sua nova casa. A recepção que sempre recebeu da enfermeira Janes é diferente de qualquer outra pessoa dentro do manicômio, e foi a partir desse carinho que ele aprendeu a ter confiança em um local que exalava ódio. Só que esse sentimento começa a sair dos trilhos quando Anna Godoy chega para analisar o caso do assassino.
A Srta. Godoy trabalha para FBI e foi encaminhada para desvendar todo o passado que Sr. Marconi sempre escondeu do manicômio, todas as vezes que era tocado no assunto terminava de forma trágica tanto para James ou para os seguranças, e devido esse motivo Anna estava disposta a ajudá-lo da melhor ou pior maneira possível.
No início foi um pouco complicado fazer o assassino contar alguma coisa, foi preciso usar cadeira elétrica e muitos remédios para mantê-lo sob controle, só que todas as tentativas foram em vão. James não conseguia dominar o corpo quando o seu silêncio era a resposta, pois sempre era descarregado muita eletricidade em seu corpo e apesar de todo o sofrimento ele preferia sofrer fisicamente do que relembrar tudo o que aconteceu.
Vendo que a agressão não resultaria em nenhuma resposta Anna Godoy muda o seu formato de trabalhar no caso. Ela tenta deixar James o mais confortável possível, fazendo-o ter confiança nela, e todo esse esquema de apoio e conforto foi o necessário para aproximar uma sargento e um criminoso. Por um lado Sr. Marconi estava sendo dominado pelo encanto da sargento, e por outro Srta. Godoy mal esperava pelo que estava para acontecer.
E Se Ela Soubesse?, de Renata Christiny e recentemente publicado pela Editora Rouxinol, foi um dos ebooks mais desejado da Amazon na sessão de suspense. O sucesso foi tão grande que a autora foi capaz de vender uma tiragem em questão de um mês, assim concluindo que James e Anna estava trazendo grandes resultados na vida da escritora. Esse é o primeiro livro da trilogia Não Conte a Ela.
Manicômio é um cenário não muito abordado por autores que preferem tratar de histórias que têm personagens com graves problemas mentais, talvez o motivo seja o tamanho do sofrimento que os internos já passaram durante anos dentro de um dos terríveis hospitais psiquiátricos. O passado histórico de manicômios é repleto de tortura e desumanidade, muitos acreditavam que pessoas com determinada incapacidade mental seriam capazes de suportas devidas dores, mas felizmente esse evento de ódio gratuito dentro de instituições do tipo vem diminuindo conforme os anos estão passando.
Em 1999 no Brasil foram internadas 276 mil pessoas — 34 mil por mês — em redes públicas com "capacidades" de atender pacientes com problemas mentais. O número de internados aumenta a cada ano que se passa e infelizmente denúncias de abusos físicos, higiênicos e de poder está cada vez mais frequente nas delegacias. É válido lembrar que não são todos os manicômios que tratam seus pacientes com tamanha crueldade, mas uma grande porcentagem já foram denunciadas e registados em emissora de TV aberta, mostrando indivíduos vivendo em precaridade chegando a defecar e outro se alimentar das fezes.
A série norte-americana American Horror Story em sua 2° temporada chamada Asylum, ou seja, é passada em um manicômio e apesar de a série focar no "horror" ela demonstra claramente o pesadelo que é viver dentro de uma instituição para pacientes com problemas mentais. É muito comum encontrarmos instrutores sem paciência e incapazes de manter o respeito entre os internados, chegando até mesmo fazer chantagens para ver a humilhação daqueles que foram abandonados pelos familiares.
"Aquilo me desconcertou, eu não fazia ideia de como os dias passaram tão rápido. No começo, eu marcava os dia sna parede com caneta para não me perder, mas então me tiraram isso também. (página 13)"
Em E Se Ela Soubesse? não é muito diferente de algumas histórias de pessoas que foram registradas com problema mental. O cenário inicial é um manicômio produtor de ódio e tortura, e é nele que James vive há alguns anos e devido ao uso excessivo de remédios para manter tudo sob controle ele alucina e chega acreditar que estar poucos meses preso na instituição. Apesar de não ser algo considerável agradante, foi bom a autora abordar de forma "sútil" o que é realmente praticado por "profissionais" do caso. Infelizmente muitos pacientes já foram diagnosticados sem ficha criminal, e devido aos fortes remédios que foram ingeridos para tranquilizá-los faziam os mesmos acreditarem que realmente cometeram um crime considerável como uma doença mental.
Conforme eu fui fazendo a leitura do livro, eu tive uma crise choro ao ficar analisando o caso do personagem principal — James — até porque nós não sabemos o motivo dele ter sido acusado de assassinato, e apesar de qualquer crime feito por qualquer pessoa a tortura não é forma de resolver, remédios que atacam o cérebro e o subconsciente de determinados indivíduos não chega a nenhum resultado além de descarga de ódio. E a forma que o protagonista era tratado, o modo que ela pensava sobre tudo o que envolvia-o me deixava muito constrangido, porque eu sei que muitas pessoas passaram pelo mesmo que ele vivenciou.
A meu ver Renata Christiny conseguiu transmitir a experiência de viver dentro de um manicômio muito bem, a essência e o clima da história dá uma intimidade enorme para o leitor entrar na vida de James. Os planos para se livrar do local e as formas que ela visualizava todos que presenciavam dá para entendermos que MUITOS pacientes já passaram pelo mesmo, e que ele é mais um entre tantos outros.
"Continuei calado, o que resultou em outro choque. Era como se eu estivesse ligado diretamente a rede elétrica do prédio, e talvez fosse mesmo isso. Eu não fazia ideia da intensidade que tinha esse choque. Era horrível, uma das dores mais irritantes que eu já havia sentido. (página 31)"
Como na capa é dito, a história do livro é sobre um sentimento inevitável que James Marconi sente por Anna Godoy e apesar de o gênero ser suspense e ter um cenário oprimido o foco é tratar sobre sentimentos. Sr. Marconi consegue mudar seus sentimentos de uma hora para a outra sem se incomodar com as consequências, e por outro lado ao decorrer da história somos apresentados personagens que também têm os sentimentos à flor da pele. Janes — enfermeira que James gostava — dava total atenção para o paciente e devido esse carinho ele tinha muito controle quando eles conversavam. Sinceramente, eu consigo enxergar esse fator como um apelo social, porque nem tudo precisa ser tratado na base da violência como algumas pessoas pensam, um tratamento psicológico ou até mesmo uma conversa tranquila é o caminho para muitos problemas.
Apesar de eu ter ficado emocionado em algumas cenas da história, ela não deixa de ser um suspense muito misterioso. Os plot twits foram bem desenvolvidos pela autora, em nenhum momento eu encontrei ponta solta e os diálogos dos personagens não são forçados, ou seja, a Renata Christiny tem uma escrita maravilhosa capaz de fazer o leitor ficar vidrado na trama e obcecado pela história.
A divisão de capítulos também é outro ponto positivo do livro, pois os capítulos sempre acabam em momentos de suspense levando o leitor a ler o próximo, assim pegando um ritmo maravilhoso durante a leitura. Outro fator que reparei foi que a quantidade de página dos capítulos de acordo com o ritmo da história, se era um momento de tensão os capítulos são curtos, em momentos de delírios e reveladores são maiores e assim por diante. Os personagens criados é mais um ponto muito relevante da obra, todos os personagens sem exceção tem um passado instigante e muito bem esclarecido, assim fugindo totalmente do superficial e incrementando para uma história mais completa.
Durante a leitura eu só tive um pequeno incomodo com a escrita da autora ao falhar com vocativo, eu fico muito incomodado quando a vírgula é passada despercebida, acho que a autora poderia puxar um pouco o pé da revisora, pois vírgula muda totalmente o sentido da frase principalmente quando se trata de vocativo. Como ela está publicando pela Editora Rouxinol nesse mês (Julho de 2017) creio eu que a história terá uma revisão melhor.
Renata Christiny diferente de outros autores criou a história nos Estados Unidos e adotou a cultura norte-americana, eu fiquei muito feliz em saber que ela conseguiu agregar uma cultura um pouco diferente da dela de uma maneira tão clara, gostei muito de saber não teve falhas ou controversas com o estilo de vida escolhido
Infelizmente não posso opinar a diagramação do livro, pois a nova tiragem será em uma editora na qual nunca tive contato com os exemplares — apesar de gostar muito dos lançamentos —, mas o trabalho de capa tá maravilhosa, ela condiz muito com a história e eu acho que essa capa tem MUITO o que revelar do segundo livro. Eu estou louco para continuar lendo a trilogia, até porque o final de E Se Ela Soubesse? é muito atentador e acaba em um momento de total suspense.
Enfim, indico a obra para todos aqueles que estão procurando um romance totalmente fora do comum e recheado de suspense. Além disso, recomendo o livro para quem tem interesse em saber mais como internados em manicômios costumam reagir após o uso excessivo de remédios "tranquilizantes". Então não percam tempo e façam a leitura de E Se Ela Soubesse?, de Renata Chirstiny o mais rápido possível e saiba mais sobre James Marconi e Anna Godoy.
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