Confissões de uma leitora 29/08/2018
Depois de vários ensaios, observando esse livro passear pela minha timeline –grupos, indicações de quem leu e tals, eu, enfim, li. Tinha uma ideia sobre quem ou o que seria o ponto central ou quase isso. Aliás, este é um dos pontos que intrigam na obra. A capa te dá uma ideia; a leitura te dá outras mil (algumas acertei, o resto foi só especulação mesmo). Isso me deixou meio louca.
Para quem me conhece, sabe que viro um detetive na hora da leitura, ainda mais se tratando de thriller psicológico. Então, vesti minha farda imaginária!
O livro já começa com um prólogo eletrizante, que me deixou na expectativa, respiração pausada, olhos grandes e atentos ao próximo movimento... e eu torci mesmo sem saber ao certo o que acontecia ou o porquê daquilo ou quem, de fato, era o sujeito e suas motivações. Talvez tenha sido meu inconsciente regado de bons valores, que me foram pregados desde que me entendo por gente. Temos um senso de proteção e torcida para com aqueles que julgamos ser mais fracos e necessitar de nossa ajuda (talvez nem tanto por sermos “bons”, senão pelo “bônus” do papel de “herói” –, a vida está aí para não me deixar mentir).
Então, começa o martírio e o vivemos com o personagem principal.
Tenho que dar os parabéns a escritora pela forma realística que ela descreveu esse paciente no âmbito hospitalar psiquiátrico, suas dores, suas angústias, sentimentos, sua relação com ele mesmo e o ambiente.
Foi real. Foi doloroso. Foi revoltante. Foi brilhante.
Quem já teve alguma experiência trabalhando em um hospital psiquiátrico sabe que nem tudo são flores, apesar dos melhores intentos.
Não sei se houve intenção criticar determinados comportamentos por parte de alguns profissionais atuantes nesse ramo. Seja como for, elas são pertinentes.
E choque-se comigo, há profissionais desumanizados na área da saúde!
Todo profissional seja de que área for, mas, sobretudo, quando se trata da saúde, que lida diretamente com pessoas fragilizadas, deveria passar por um processo seletivo rigoroso e uma preparação ainda mais rigorosa.
Estar em um ambiente desse, em que o senso comum te olha não como gente, mas como louco (aberração de circo), a última coisa que precisamos é de profissionais com essa mesma visão chula. De profissionais que confundem defesa com agressão. De tratamentos que são, na verdade, tortura gratuita. E sim, a humanidade desses pacientes é posta em cheque. Estar em um hospital psiquiátrico, quem está ali, está impotente, a mercê do outro que é julgado “normal” pela sociedade. E, infelizmente, às vezes, ela desaparece diante de olhos não empáticos, enxergando no paciente apenas uma aberração louca, o CID, o rótulo, que precisa ser contido e neutralizado. Falta empatia. Falta humanidade. E isso é chocante! Revoltante! Doloroso demais! Perverso demais!
O abuso de poder, a humilhação, o desespero, os gritos silenciosos na mente, a consternação pela impotência, o abandono, descritos aqui são tão críveis e por isso são tão dolorosos e difíceis de engolir. E nesta, nos questionamos quem realmente é o doente ali? Quem realmente é o perverso?
Os sentimentos de James e suas aflições são muito reais.
Sua impotência, as amarras que o prende, quer sejam físicas ou mentais, é de deixar qualquer um aflito, com o medo serpenteando ao redor, temendo que a qualquer momento a ameaça rondando se faça real. E aí entra uma coisa bacana, o instinto de sobrevivência. É bonito e doloroso também ver como a pulsão de vida tenta de todas as formas nos preservar diante das adversidades.
Há sim bons profissionais que são empáticos e humanizados, e arrisco em dizer que a maioria, se não todos eles tem um pé na psicologia. Aliás, é aqui que entra um dos “poréns” do livro. Senti falta de um profissional da área, mesmo que apenas citado – pra mim, seria a cereja do bolo. Outra coisa, em relação ao suspense final “ela sabe-não sabe”. Particularmente, embora tenha compreendido a necessidade de introduzir a história de Anna, achei que se arrastou demais toda aquela situação envolvendo-a, postergando assim o fator surpresa. Pois antes mesmo dele ser revelado, os sinais eram muito claros e com a devida atenção o click ocorria, e arrastar isso diminuiu BOOM do momento.
Eu não preciso dizer que amei Jane e que terminei o livro temendo por ela #entendedoresentenderão. Nem o quanto fiquei emocionada com a carta da mãe de James e sua descoberta dolorosa.
Fiquei deveras curiosa para conhecer mais de Anna, aliás, partes de seu passado fizeram meu coração miúdo no peito e doente na alma.
As peças ainda não estão encaixadas em seus devidos lugares, faltam mais dois livros e eu mal posso esperar para desvendá-los.