Mauricio (Vespeiro) 20/02/2018Terror silvícola.Papa-Capim é um indiozinho pataxó que, nas HQs de Mauricio de Sousa, nunca representou muita coisa pra mim. Nem sequer diversão. Histórias eco-xaropes que, confesso, muitas vezes eu até pulava. Mais maçante que o Bidu conversando com a Dona Pedra. Com a hercúlea missão de deixar a indiarada mais interessante, a roteirista Marcela Godoy e o ilustrador Renato Guedes se uniram para fazer uma história de... terror. Hummmm... Como assim?
OK. Já sei que não seria fácil. Pois, no mínimo, precisaria manter a (chata) essência de Papa-Capim e sua turma, criados originalmente no começo dos anos 60. Naquela época, a questão das terras indígenas era muito forte e, arrisco dizer, ainda pertinente. Passadas décadas, com índios urbanizados e descaracterizados, o glamour de outrora desapareceu. De qualquer forma, achei o desafio válido e - em linhas gerais - eles conseguiram cumpri-lo. Na história, a tribo de Papa-Capim, Cafuné e Jurema é atacada por... espíritos-zumbis-canibais-vampiros. Pois é... mas vamos lá. A trama é meio confusa, o que era pra ser terror não assusta, muito menos empolga. Os monstros da noite branca não tem originalidade e seguem um roteiro muitíssimo previsível. A roteirista é dedicada e fez um ótimo trabalho de pesquisa, mas senti falta de suspense e de um fator-surpresa. Tentaram inserir um clima sombrio com o uso das cores escuras, mas passaram longe de um “Wytches”, de Scott Snider, por exemplo. Papa-Capim ganhou poderes sobre a natureza que me remeteram a algo bizarro entre o Aquaman e o Fauno (do Labirinto).
Gostei muito das ilustrações realistas de Renato Guedes, fazendo com que a nova concepção dos personagens se afastasse bastante do traço infantil dos originais. Isso não é problema, pois a releitura atualizada exige algumas mudanças, sejam sutis ou mais radicais. O traço é muito bom, mas achei que a colorização não foi bem feita em alguns quadros e páginas. A diagramação em "Papa-Capim - Noite Branca" é moderna e muito dinâmica, de modo que encobre defeitos na arte, sobrepõe a fraqueza do roteiro e faz com que a média geral suba bastante, considerando que os autores beberam na fonte de filmes de terror trash. A propósito, lembrei de um (uma bomba!) que pode tê-los inspirado: “The Green Inferno” (“Canibais”, em português), de 2013, dirigido por Eli Roth, conhecido por dirigir “O Albergue” e pela codireção (com Quentin Tarantino) de “Bastardos Inglórios”.
Nota do livro: 7,12 (4 estrelas).