Gu Henri 15/02/2018
Neruda é tocante. É o poeta aclamado que cantou a humildade, a simplicidade, a natureza, o passado, o presente, a esperança do futuro. Não há em seus versos aquele enfado de mostrar erudição.
Neruda canta os elementos da natureza, pinta seus versos mesclando-os com lembranças, com sentimentos, com o passado e sua falta de justiça, e com a esperança de justiça vindoura. Há panteísmo em seus versos, e um panteísmo que remete ao que acreditavam os habitantes originários deste continente americano antes da chegada dos europeus colonizadores e exploradores.
Qual o motivo que leva Neruda à Ilha de Páscoa?
Nalguns versos sortidos entre os poemas podemos notar, e já na sua Introdução:
Para a Ilha de Páscoa e as presenças
parto, saciado de portas e ruas,
buscando algo que ali não perdi.
(...)
e mais adiante, no poema XIV,
(...)
E para que viemos até a ilha?
(...)
o que levaremos conosco regressando
(...) um vazio oceânico, uma pobre pergunta
com mil contestações de lábios desdenhosos.
no poema XX
(...)
− de ti, rosa do mar, pedra absoluta,
saio limpo, vertendo a claridade do vento −
revivo azul, metálico, evidente.
e, no poema XXI, nos explica:
(...)
eu, poeta obscuro, recebi o beijo de pedra em minha face
e se purificaram minhas angústias.
Talvez foi pelo cansaço da cidade, pois queria o silêncio e a solidão da ilha. E, olhando aos moais que vigiavam o mar, os interrogou num porquê. Não obteve resposta. O silêncio deles permanecia eterno. Como sabe-se, só há teorias nas quais dizem, sem certeza, o porquê destas estátuas a vigiar a ilha. Eles, os moais, nada falam, são mudos e silenciosos. Para Neruda os moais também interrogavam os que de longe por lá iam.
Nesta busca de nada que se perdeu, saiu satisfeito pela imensidão de um vazio oceânico, saiu satisfeito pelo silêncio, pela solidão, pelas interrogações. Saiu revivido nas suas forças de poeta.